Um forte esquema de segurança foi montado para evitar a fuga de um dos maiores criminosos do interior, Edgar dos Santos Silva, o Edgarzinho, 49 anos, preso por policiais militares na noite desta quinta-feira em uma chácara na rodovia Gabriel Melhado, em Birigui. Ele estava com outros cinco homens e grande quantidade de maconha.

Por questões de segurança, a ocorrência não foi apresentada em Birigui e veio para a Central de Flagrantes de Araçatuba, onde policiais militares fortemente armados permaneceram o tempo todo em frente à unidade, até a saída dele e dos comparsas para audiência de custódia.

A PRISÃO

A prisão de Edgarzinho foi na noite desta quinta-feira, depois que a Polícia Militar recebeu a informação de que ele e outros homens estariam reunidos em uma chácara que pertencia a Agnaldo Fernando de Oliveira, 47, o Agnaldinho, que morreu durante um confronto com policiais militares na madrugada do dia 11 de agosto, na rodovia Elyeser Montenegro Magalhães, em Araçatuba.

 

De acordo com o capitão Vander Luís Duarte dos Santos, da Força Tática, três equipes se deslocaram até o local, chegando pelas duas principais vias de acesso, a rodovia Gabriel Melhado e uma estrada de terra nos fundos da chácara, locais por onde havia possibilidade de fuga. Eles observaram que no local havia uma residência principal e outra menor, destinada ao caseiro, onde, nos fundos, seis homens estavam conversando. Os policiais conseguiram identificar um deles como sendo Edgarzinho.

Os policiais entraram na propriedade e abordaram os seis homens, Edgarzinho, Maikel Caldeira (caseiro), Carlos Roberto de Souza, Jhonatan Oliveira de Souza (que usava o nome falso de Anderson de Souza Ferreira), Ederson Coelho Rodrigues e Hugo Leonardo Rodrigues. Em revista pessoal os policiais não encontraram nada de ilícito com os homens.

No entanto, na propriedade havia quatro carros, um Fiat Pálio com placas de Araçatuba, o qual Edgarzinho confirmou ser de sua propriedade, apesar do documento não estar em seu nome. Debaixo do banco traseiro do carro foram localizados 11 tijolos de maconha. Também havia um New Civic, com placa de Rio Claro, de Ederson Coelho Rodrigues. Ele disse aos policiais que veio de Marília na companhia de Hugo Leonardo. No carro os policiais encontraram mais 10 tijolos de maconha.

No local ainda havia um Prisma, preto, com placa de Bauru, de Jhonatan Oliveira, e um Monza, modelo antigo, sem bateria, com sinais de que há muito tempo não é utilizado, pertencente ao caseiro da chácara. Nos dois carros nada de ilícito foi encontrado.

CANIL

Como a propriedade é grande, os policiais pediram apoio do canil da PM, e cães farejadores indicaram dois pontos onde poderia haver mais droga enterrada. Eram duas cavidades cobertas por folhagens, ao lado da casa do caseiro. Em uma revista minuciosa nos locais, os policiais encontraram mais sete tijolos de maconha em uma das cavidades e 13 na outra, totalizando 41 tijolos da droga. Os homens que estavam no local afirmaram desconhecer de quem era toda a droga.

PROCURADO

Jhonatan usava documentos falsos e a princípio se apresentou como sendo Anderson de Souza Ferreira. Os policiais suspeitaram porque durante abordagem, ele mostrou meio confuso a responder questionamentos como número de identidade e filiação. Quando a farsa foi descoberta, ele revelou que usava documentos falsos porque era foragido da Justiça, tendo contra ele um mandado de prisão preventiva, por tráfico de drogas, expedido pela Justiça de pereira Barreto.

SEGURANÇA E FUGAS

A ocorrência seria apresentada na delegacia de Birigui, mas, por questões de segurança, acabou sendo apresentada em Araçatuba. Durante a madrugada até a saída dos acusados para audiência de custódia, policiais militares fortemente armados ficaram fazendo a escolta em frente a central de flagrantes.

Edgarzinho, considerado um dos maiores criminosos do interior do Estado, fugiu da antiga cadeia de Araçatuba, na rua General Glicério (hoje um prédio do governo estadual que está abandonado) após ter sido preso acusado de participar do maior assalto ocorrido na região, em 1997, quando ele e seu bando roubaram R$ 1,7 milhão da empresa de transporte de valores Protege. Ele e o policial militar Ernesto Lopes Filho eram os líderes da quadrilha.

Posteriormente foi preso e em março de 2000 conseguiu, com mais sete detentos, fugir do complexo penitenciário Nestor Canoas, em Mirandópolis. Ficou quase quatro anos foragido e usando identidades falsas. Jornalistas que hoje trabalham no RegionalPress e que conhecem a história de Edgarzinho, lembram de suas táticas para tentar despistar a Polícia, mas que na realidade, nunca deram resultado para o criminoso.

MORTE FORJADA

No início de 2001, quando estava foragido, familiares de Edgarzinho chegaram a publicar realização de missa de sétimo dia de sua morte. No entanto, jornalistas na época questionaram o caso e o padre suspendeu a missa, convencido de que poderia realmente ser uma farsa, o que de fato ficou comprovado em 2003, quando ele foi recapturado na capital Paulista.

EXTERIOR

No período em que ficou foragido, entre março de 2000 a novembro de 2003, Edgarzinho morou um período em Santa Cruz, na Bolívia, e usou pelo menos duas identidades falsas. Uma em nome de Antônio Carlos Ligeron, e outra em nome de Francisco Nilton Bezerra, expedida no estado do Ceará.

Na Bolívia ele teria inclusive simulado casamento com uma boliviana para tentar cidadania daquele país, onde, segundo foi apurado pela polícia que investigava seu paradeiro na época, tinha muita influência e recebeu inclusive o apelido de El Patron (O Patrão). De acordo com as investigações, ele comercializava na Bolívia, carros roubados no Brasil, e também despachava drogas em grande quantidade para o interior de São Paulo.

ASSALTOS

Edgarzinho passou a ser conhecido e ganhou fama de ser um dos principais criminosos do interior após o assalto, em 1997, da empresa de transporte de valores Protege, no bairro Santana, em Araçatuba. O bando de Edgarzinho sequestrou o então gerente da empresa, sua mulher e os três filhos do casal na noite do dia 6 de outubro daquele ano. Na manhã seguinte, a quadrilha conseguiu entrar na empresa, de onde levou R$ 1,7 milhão em dinheiro, colete a prova de bala e armamentos diversos. O assalto foi praticado por 13 pessoas, sendo que dois deles foram assassinados durante a fase de investigação do caso. A Polícia, na época tratou os homicídios como queima de arquivo.

Em 1998 policiais encontraram na chácara de Edgarzinho, no bairro Arco-Íris, também em Araçatuba, grande quantidade de armamentos pesados. No arsenal havia morteiros, metralhadora UZI, fuzis AR-15, FAL, pistolas, munição, granadas, e gel explosivo, além de peças artesanais conhecidas como pé-de-galinha, utilizadas para serem jogadas em perseguição, com o intuito de furar os pneus dos carros que estão atrás do veículo que empreende a fuga.

Na época, a polícia afirma ter frustrado um grande assalto, também a carro a forte. A apreensão dos armamentos se deu horas antes da chegada de um avião que faria transportes de grande quantidade de dinheiro. Em alguns pontos da estrada de acesso ao aeroporto havia pés-de-galinha espalhados.

Quando os policiais chegaram para fazer as buscas na chácara de Egarzinho, um senhor de descendência oriental atendeu os militares, apresentou uma carteira funcional de delegado de polícia e impediu a entrada dos policiais, exigindo mandado de busca judicial. Enquanto isso o bando fugiu pelos fundos da propriedade, inclusive o oriental.

Na sequência houve o sequestro de um caminhão do Der próximo a ponte do rio Tietê e o roubo de um veículo de passeio na zona rural de Santo Antônio do Aracanguá, sendo que após os episódios ninguém foi preso.

Já em 1999 foi acusado de participar de outro mega-assalto na casa do dono de uma indústria de Birigui, de onde sua quadrilha subtraiu quase R$ 150 mil em jóias e dinheiro.

MORTE DE AGNALDINHO

A última vez que Edgarzinho apareceu suspeito de envolvimento em ocorrência policial foi na ação que resultou em um confronto entre traficantes e policiais, na rodovia Elyeser Montenegro Magalhães no dia 11 de agosto, em Araçatuba. Agnaldo Fernando de Oliveira, o Agnaldinho, proprietário da chácara onde Edgarzinho foi preso nesta quinta-feira, morreu baleado após atirar contra policiais em uma ação que resultou na apreensão de 120 quilos de maconha e um quilo de pasta base de cocaína. Na ocasião, outros três homens foram detidos e um deles conseguiu fugir em meio ao canavial. De acordo com a polícia, tudo indica que era Edgarzinho.