E se a gripe A (H1N1) contrariar as previsões de saída da crise mais otimistas que anunciam o melhor para a atividade mundial a partir do outono de 2009? Muitos economistas se perguntam hoje sobre esse cenário que certamente depende da gravidade da infecção. Em nota, os especialistas do Banco Mundial estimam, por exemplo, que o custo econômico da pandemia poderá variar entre 0,7% a 4,8% do produto interno bruto (PIB) mundial. A margem mais baixa corresponde a uma “catástrofe modesta”, a exemplo da gripe de Hong Kong de 1968; a mais alta, a uma “catástrofe grave” do tipo da gripe espanhola de 1918, que fez entre 50 e 100 milhões de mortos.

A consultoria britânica Oxford Economics, ligada à universidade inglesa, prevê, em um estudo publicado no dia 17 de julho, que a pandemia poderá adiar em um ou dois anos a recuperação da economia mundial. Em sua análise, o instituto enfatiza a rapidez com a qual a doença, por enquanto amplamente benigna, se propaga. A Oxford Economics ressalta a hipótese de uma contaminação futura de 30% da população mundial e a partir daí deduz as consequências possíveis sobre a atividade econômica. Do lado das empresas, o absentismo no trabalho – reforçado pela obrigação dos pais de manterem seus filhos em casa – e a diminuição das viagens deverão afetar os negócios, e portanto, a produção. Clientes e consumidores poderão decidir evitar os locais públicos (centros comerciais, cinemas, eventos esportivos, etc.) e restringir seus planos de turismo.

Esse círculo vicioso também poderá abalar a confiança dos investidores e dos mercados financeiros, ainda sob o choque da atual crise econômica. Nada melhor para estimular as famílias a redobrar a cautela e poupar ainda mais. Enfim, para o órgão inglês, todos os ingredientes poderão se juntar para “mergulhar o mundo na deflação”, ou seja, uma crise profunda marcada por uma queda geral e prolongada do valor dos bens e dos ativos.

Um cenário negro? De qualquer forma, o mais extremo. Os especialistas da Oxford Economics explicam ter realizado suas extrapolações a partir das pandemias gripais anteriores, em especial a gripe asiática (H2N2) de 1957 e a de Hong Kong (H3N2) em 1968, e sobretudo a partir da Síndrome Respiratória Aguda Grave (Sars) que atingiu a Ásia em 2003, ano em que “o número de turistas estrangeiros com destino a Hong Kong caiu 60%”. Além disso, eles explicam, em 2003 a economia mundial não estava tão mal quanto hoje, e a atividade econômica logo se recuperou.

O estudo se debruça mais especificamente sobre o caso britânico, país europeu mais atingido pela pandemia.

Nos sete últimos dias, o número de mortos ligados ao vírus H1N1 mais do que dobrou, atingindo 29 pessoas (26 na Inglaterra, 3 na Escócia). Assim como o de pessoas que apresentam todos os sintomas da doença – mas que ainda não foram oficialmente diagnosticadas como atingidas pelo vírus – , que repentinamente ganhou 55 mil casos e agora ultrapassa os 100 mil.

O European Centre for Disease Prevention and Control, com sede em Estocolmo, conta 10.649 pessoas oficialmente atingidas pela gripe A (H1N1), em um total de 15.774 casos registrados dentro da União Europeia estendida à Noruega, Suíça e Islândia. Ninguém sabe hoje explicar essa particularidade britânica, ainda que a intensidade do tráfego aéreo que passa por Londres não seja estranha a eles. Além disso, a British Airways e a Virgin Atlantic não embarcam mais passageiros que apresentem os sintomas da doença.

A Oxford Economics avalia que o custo da pandemia poderá representar, na Grã-Bretanha, até 5% do PIB, uma vez que o país enfrenta atualmente sua mais grave recessão desde a Segunda Guerra Mundial. Ainda que o governo de Gordon Brown garanta que a Grã-Bretanha é o país “mais bem preparado” para a luta contra a pandemia, sua comunicação é mais alarmante do que tranquilizadora. O ministério da Saúde pediu ao National Health Service (NHS), o serviço de saúde pública britânico, para se preparar para enfrentar 65 mil mortes. Não se trata de uma previsão, garantiram seus porta-vozes, mas da pior situação possível, que no outono teria 30% da população – e 50% das crianças – atingida pela gripe suína.

Nesse contexto, as mulheres grávidas e as crianças – particularmente atingidas pelo vírus – são aconselhadas a ficar em casa. O ministro da Educação, por sua vez, anunciou que as escolas poderiam ser fechadas na época de volta às aulas. Ainda mais porque o período de férias escolares que se inicia nos próximos dias é propício aos deslocamentos e ao contágio. Se a atual tendência se confirmar, “nós poderemos ver mais de 100 mil casos por dia até o final de agosto, mas eu insisto, isso é só uma previsão”, declarou recentemente Andy Burnham, o ministro da Saúde. Em setembro, um em cada oito assalariados poderá ser obrigado a ficar em casa, de acordo com as previsões de seus serviços. O país não está equipado para enfrentar um fenômeno de tal dimensão. Não se sabe quando os 132 milhões de doses de vacina contra o vírus H1N1 que a Grã-Bretanha encomendou para tratar seus 60 milhões de habitantes estarão disponíveis. Os hospitais logo ficarão saturados.

Diante desse aumento da preocupação e dos riscos econômicos, governos e empresas estão em alerta (“Le Monde”, 16 de junho). Na França, o ministério da Economia implementou no início de maio uma “unidade de continuidade econômica”. Nos Estados Unidos,os especialistas dos serviços americanos de saúde e de vacinação farão uma reunião de emergência em 29 de julho para estabelecer um plano de vacinação contra a gripe A(H1N1) no outono. É verdade que seis em cada dez americanos, segundo uma pesquisa realizada em meados de julho pela Universidade Harvard,temem um ressurgimento da doença, 43% receiam ter perdas de rendimentos e 25% perder seus empregos, caso sejam obrigados a ficar em casa.

De qualquer forma, um índice de absentismo elevado no outono é uma hipótese amplamente considerada pelos grandes grupos que se munem de máscaras e antivirais, e pensam no desenvolvimento do trabalho à distância. As pequenas e médias empresas estariam mais atrasadas. Em Londres, a federação das pequenas empresas acredita que as 120 mil pequenas e médias empresas poderão ser obrigadas a suspender suas atividades por causa da pandemia.