“Podemos salvar o mundo dançando. Esse é o apelo ambiental mais eficiente” disse, Aryen Tieleman, proprietário da casa noturna Watt, situada na cidade holandesa de Roterdã. Tieleman está sendo considerado na Europa um dos grandes revolucionários do entretenimento – e também das causas ecológicas, seguindo o conceito do Sustainable Dance Club. Ou seja: divertir-se é preciso, mas poluir o planeta, não. A sua discoteca tem as paredes, por exemplo, feitas de garrafas PET.
Nada mais “verde”. A casa tem lotado de jovens e já serve de modelo para outros empreendimentos do gênero: no café Natuur, na estação de trem Driebergen-Zeist, a porta de entrada giratória é um potente gerador de energia limpa. Na Inglaterra é o empresário e ambientalista Andrew Charalambous quem vem fazendo sucesso. Ao abrir em Londres o seu clube chamado Surya, ele próprio se surpreendeu: “Veio gente de diversos países na inauguração, fiquei feliz quando vi brasileiros, americanos e australianos.”
O clube Surya serve bebidas alcoólicas orgânicas, seu bar foi construído com telefones celulares usados e há uma pequena pista de dança geradora de eletricidade não poluente. “Tudo isso dá um ar de modernidade e ajuda a natureza”, diz Charalambous. Já nos EUA a sensação desse casamento entre diversão e sustentabilidade tem endereço em Nova York, na luxuosa ecobalada Greenhouse. “O conceito do que é ecologicamente correto sempre foi associado a atividades um tanto desanimadas.
Mas quando ele é mesclado ao bom e alegre lazer, aí fica fácil educar para a construção de um planeta saudável”, diz Tieleman. Como todo bom empresário, ele também sabe atrair clientes por meio de promoções, e a que mais deu certo foi a ideia de fornecer ingresso gratuito àqueles que chegam à Watt de bicicleta.
Para quem acha que as ecodanceterias não podem ser high tech ou luxuosas, a nova-iorquina Greenhouse prova o contrário. Dos suntuosos sofás até seus altos pilares, tudo é feito com materiais que poderiam até estar no lixo. São as pistas de dança, no entanto, a atração que mais desperta curiosidade, e isso se vê tanto na Watt quanto no Surya. “Quanto mais as pessoas dançam e pulam, maior é a energia gerada para alimentar os lasers e os sons graves dos alto-falantes”, diz Tieleman.
As pistas dessas casas se valem do fenômeno conhecido cientificamente como “efeito de cristais piezoelétrico”: materiais como o quartzo, quando pressionados, armazenam carga e produzem eletricidade. Assim, quando as pessoas estão dançando, a pista recua cerca de um centímetro, comprime a estrutura e a energia produzida é constantemente distribuída aos circuitos eletrônicos.
“A eletricidade é gerada na pista de dança. Cuidar do planeta é a nova opção nas noites da Holanda”
Aryen Tieleman, dono do Watt
Segundo o laboratório europeu de pesquisas ambientais Enviu, cada pessoa que dança nesse tipo de pista é capaz de produzir 20 watts. Para efeito de comparação, uma lâmpada acesa por uma hora gasta em média 50 watts. Esse sistema não é suficiente para o total abastecimento energético do local em que está instalado, mas colabora, e muito, com a conservação ambiental: casas como a Watt e o Surya poluem 30% menos em relação àquelas que utilizam métodos tradicionais de iluminação.
Além da pista, outro diferencial é o sistema de água que utiliza a chuva coletada em funis instalados no telhado. Uma demonstração prática de que essa ideia deu certo está no sucesso de público de uma balada organizada em Roterdã: aproximadamente 1,5 mil pessoas compareceram e o evento ganhou destaque naw mídia de todo o mundo. Também em Londres essas festas são cada vez mais frequentadas e o empresário Charalambous já faz arrojados planos: “Em 2010 vou construir uma ilha de festas ambientais na Grécia. Acabou a era em que o ecologicamente correto se resumia a teorias e sermões.”