O britânico Stewart McPherson é uma das principais referências em todo o mundo no campo da botânica. E costuma dizer que sua paixão pelas plantas não esmorece porque elas não param de surpreendê-lo. Eis uma de suas declarações na semana passada: “Levei um grande susto. Buscava, como sempre, raridades na flora, mas não estava preparado para o que encontrei.” O encontro ao qual McPherson se refere se deu em matas da região central das Filipinas: ele e sua equipe se depararam com uma espécie de bosque repleto de uma até então desconhecida espécie de planta carnívora gigante. Só para se ter uma ideia da razão pela qual o pesquisador se assustou, essas plantas são extremamente vorazes ao prenderem e devorarem pequenos roedores e insetos – e chegam a atingir nada menos que um metro e meio de altura.

Essa mesma expedição científica capitaneada por McPherson catalogou outras diversas espécies, também novas, como, por exemplo, a dos cogumelos azuis e a das samambaias rosas. “Ficamos cercados por um mundo totalmente desconhecido pela botânica. Mas é claro que as plantas carnívoras acabaram monopolizando as atenções, e nem poderia ser diferente”, diz o pesquisador Alastair Robinson, botânico da Universidade de Cambridge, em Londres, e também integrante da expedição.

Plantas carnívoras, embora consideravelmente menores, já tinham sido vistas nas Filipinas – mas a situação limite em que isso ocorreu impediu que elas fossem analisadas e classificadas. Por isso, somente agora se considera na comunidade científica que essa espécie de flora, a gigante, foi descoberta. Na ocasião anterior, mais precisamente no ano 2000, dois missionários católicos tentaram escalar o Monte Vitória, montanha pouco explorada naquele país.

Sem preparo físico e psicológico adequado para tão arrojada empreitada, os missionários aventureiros acabaram se perdendo e atravessaram 13 dias vagando pelas florestas até serem resgatados. Eles tentaram em vão contar sobre as plantas que viram, mas, dado o seu estado de exaustão, era uma temeridade os cientistas os levarem a sério. Não acreditar piamente, porém, é uma coisa; ficar no mínimo curioso, é outra coisa bem diferente – e ambas compõem o raciocínio e a alma de um pesquisador científico. Prova disso é que o fato intrigou a equipe de McPherson, que decidiu refazer o caminho dos missionários.

Em um pico, a cerca de 1,6 mil metros de altitude, os cientistas comprovaram a existência da planta. Batizaram- na de Nepenthes attenboroughii em homenagem ao veterano apresentador de programas de televisão da Grã-Bretanha David Attenborough. Seu tema preferido sempre foi a natureza.

“A espécie está entre as maiores plantas carnívoras conhecidas e produz armadilhas espetaculares, capazes de aprisionar não apenas insetos, mas também roedores do tamanho de ratos”, diz McPherson. A sua descoberta impressionou cientistas de diversas universidades e foi divulgada na publicação especializada “Botanical Journal of the Linnean Society”. Na mesma expedição, os cientistas encontraram outra planta carnívora que não era vista na natureza havia 100 anos e cujos últimos exemplares em estufa tinham se perdido em um incêndio em 1945. “A natureza representa um mistério. Grande parte da fauna e da flora ainda não consta de nenhum catálogo”, diz McPherson.