Apesar da previsão de uma safra maior, o cenário de rentabilidade para o agronegócio brasileiro em 2010 é desfavorável em relação a 2009, disse nesta terça-feira o ex-ministro da Agricultura Roberto Rodrigues.
Segundo ele, a safra 2009/10, cujo plantio de verão está sendo realizado, enfrentará três problemas: câmbio desvalorizado, insumos comprados com o dólar mais alto e preços internacionais cadentes.
“Este ano, apesar dos custos altos, a renda foi boa”, afirmou Rodrigues em entrevista a jornalistas após participar do 11o Congresso de Agribusiness, promovido pela Sociedade Nacional de Agricultura, no Rio de Janeiro.
“Com exceção de café e laranja que tiveram preços afetados e carnes que enfrentaram o embargo da União Européia, o ano vai fechar razoavelmente bem. Em 2010, será pior por várias razões. Vejo com preocupação a safra de 2010”, acrescentou.
Rodrigues se mostrou muito preocupado com previsões de mercado de que o dólar poderia baixar para 1,60 real, o que afetaria as exportações e remuneração dos agricultores que compraram os insumos agrícolas no primeiro semestre com a moeda americana perto de 1,90 real.
O ex-ministro alertou ainda que no ano que vem a previsão é de safras recordes de alguns produtos no mundo, entre eles a soja, principal item da pauta agrícola brasileira.
“Os estoques serão recordes. Os estoques de soja devem crescer 50 milhões de toneladas no ano que vem. Já tem gente falando em 7 ou 8 dólares o saco. Isso é um probelam sério”, afirmou ele, que prevê que cana-de-açúcar e o açúcar devem ser os únicos produtos com bom rendimento em 2010, devido ao crescimento da demanda, especialmente da Índia, que lida com uma colheita ruim.
Os indianos são os maiores consumidores de açúcar.
Medidas sugeridas
Rodrigues defendeu que o governo federal adote medidas para tentar minimizar as perdas do setor agrícola.
O ex-ministro sugere uma redução na tributação do setor agrícola, aumento da oferta de crédito e medidas de incentivo para as exportações.
“O câmbio é flutuante e ainda virá um tsunami de dólares. O Brasil é a bola da vez e a refência mesmo. Não tem jeito”, declarou.
“Algumas questões paliativas podem ser tomadas como a desoneração da produção e da exportação, o que esbarra na questão fiscal. A segunda medida seria tornar o crédito abundante e barato, o que também tromba com a receita. A terceira seria comprar dólares.”