Com muitas velas e flores, assim estavam os cemitérios no feriado passado. Dia de Finados. Tristeza para alguns, saudades para outros…O fato é que grande parte da população dedica seu tempo à visita de túmulos tanto de familiares como de amigos, oferta flores, acende velas e faz preces. Enfim, homenagens feitas à memória dos que já se foram.

Agora, lanço uma questão: Será possível imaginar uma cidade sem campo santo nos dias atuais? Certamente que não, responderão os leitores. E há 60 anos? Será que todos os patrimônios, distritos e municípios da nossa região dispunham de um local para enterrar os corpos dos falecidos?

No início dos anos 50, Santa Mercedes, já obtivera sua emancipação político-administrativa, porém ainda não adquirira seu campo santo. Fazia-se uso do Cemitério Municipal de Paulicéia. Numa época em que estradas eram “uma picada no meio da mata” e os automóveis eram artigo de luxo, o jeito era transportar o caixão em cima de algum caminhãozinho cedido por um morador solidário. Há relatos de que foram usados até mesmo carrinhos de tração animal.

Em meados da referida década, durante a administração de Yukinaga Hirata, mais conhecido como Miguel Hirata, decidiu-se o lugar para a instalação. Desbravadores fizeram à derrubada da mata e mais tarde retiraram raízes e tocos com machados e enxadões. No livro A História de Santa Mercedes, o autor cita os nomes de Manoel Pereira de Araújo, o seu Manelão e José Firmino. O primeiro era funcionário municipal e trabalhava com o trator na retirada dos tocos, o segundo transportava os féretros até Paulicéia. É claro que há muito mais pessoas envolvidas não só na abertura do cemitério, mas também no desenvolvimento do município. Seria injusto considerarmos apenas os nomes citados, principalmente por se tratar de um período de muitas adversidades, onde as pessoas se organizavam e trabalhavam gratuitamente em mutirões. Assunto para outro artigo.

Há outros aspectos interessantes sobre o tema como o receio de alguns sitiantes com propriedades vizinhas ao local e até mesmo o procedimento do velório. Se hoje o serviço funerário cuida de tudo, antes, era necessário derrubar árvores para fazer o caixão. Este era forrado com cetim rosa, azul e roxo para meninas, meninos e adultos, respectivamente. O corpo vestido com uma mortalha e coberto por um lençol branco era velado numa mesa. Existia também a figura das “cantadeiras” mulheres que puxavam as rezas e hinos.

Infelizmente não foram encontradas fotografias que retratem esta realidade tão diferente da nossa. Entretanto, pode ser que alguém tenha. Por isso se você possuir qualquer imagem de Santa Mercedes e puder emprestá-la, será feito uma cópia. A original será devolvida. Se por acaso, você lembrar de alguma história, que tal bater um papo? Estou à disposição! Pois, o conhecimento ou não de nossas origens e tradições no futuro depende do caminho escolhido hoje.

Fonte: A História de Santa Mercedes. Fernando Perli, 1999. Arquivo de Izidoro Vieira, 2007. Entrevista concedida por Maria Borges Malheiro em 2009. Entrevista concedida por Oswaldo Zanardo em 2009. Histórico de Santa Mercedes. Carla Priscila Alves Braga, Claúdia Regina Braga Tenório, Sônia Cristina Alves Braga, 1995.

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