Uma sondagem da consultoria Pricewaterhousecoopers sugere que a melhor situação econômica do Brasil em relação ao resto do mundo preveniu a ocorrência de fraudes e crimes econômicos nas empresas presentes no país. No levantamento global, feito pela internet com mais de 3 mil representantes de empresas em 54 países, 30% dos entrevistados disseram que sua empresa sofreu algum tipo de crime econômico nos últimos 12 meses – no Brasil, esse percentual foi menor, de 24%.

Para a consultoria, a explicação é que o país sofreu menos os efeitos da crise financeira que outras partes do mundo, o que colaborou para um ambiente menos tenso entre os profissionais. “Em períodos de crise, a pressão por resultados e a redução nos controles decorrentes da necessidade de cortar custos aumenta a ocorrência de crimes econômicos”, explicou o relatório.

Dos 62 representantes de empresas ouvidos no Brasil, 40% disseram ter percebido uma redução na receita de sua companhia no último ano, contra 62% na média global.

Crise e fraude

Esta é a quinta edição da pesquisa sobre crimes econômicos da Pricewaterhousecoopers, feita a cada dois anos. Neste ano, a sondagem se debruça sobre a relação entre crise econômica e crimes econômicos.

Para 68% dos entrevistados, um ambiente de desaceleração econômica cria pressões que acabam levando empregados a cometer fraude – caso, por exemplo, de um diretor que forja resultados ou de um funcionário que procura se apropriar de recursos da empresa por ganância ou medo de ser demitido.

Outro ponto levantado nas entrevistas é que um ambiente de crise cria oportunidades para a fraude, por exemplo, quando obriga a uma redução de recursos aplicados em mecanismos de controles internos e auditorias externas.

O tipo mais comum de fraude cometida globalmente é o roubo de ativos, percebido em 67% das empresas entrevistadas. Em seguida vem a fraude contábil, que ocorreu em 38% das companhias.

No Brasil, a ordem da ocorrência também é esta, mas os percentuais são diferentes: 87% e 27%, respectivamente.

Sigilo

Mas a própria natureza sigilosa do tema dificulta comparações com outros países e mesmo com outras edições da mesma pesquisa.

Neste ano, a lista das nações onde mais se registraram crimes financeiros nos últimos 12 meses é liderada pela Rússia (71%), África do Sul (62%) e Quênia (57%) – mas também inclui economias desenvolvidas, como Canadá (56%), Grã-Bretanha (43%) e Austrália (40%).

Da forma semelhante, no fim do ranking, ou seja, entre os países ou territórios com menos incidência de fraude nos últimos 12 meses, estão Japão (10%) e Hong Kong (13%), mas também Turquia (15%) e Indonésia (18%).

A média dos Bric, o grupo de emergentes formado por Brasil, Rússia, Índia e China, foi de 34%. Desse grupo, a Índia é aquele com menor prevalência de fraude (18%). “Companhias em lugares com relativamente baixos níveis de fraude ou fracassaram em detectá-las ou se mostram relutante em registrar sua ocorrência uma vez que são reveladas”, ponderou a consultoria.

Na pesquisa divulgada há dois anos, 43% das empresas em todo o mundo declararam ter sido vítimas de fraude, nível semelhante aos 45% da pesquisa anterior, feita em 2005. No Brasil, 46% das empresas disseram ter sido vítimas de fraude em 2007, patamar semelhante aos 45% registrados dois anos antes.

O levantamento de 2007 entrevistou 5,4 mil executivos em 40 países.