A queda de 45% no ritmo de desmatamento da Amazônia, divulgada pelo Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais) nesta quinta-feira (12), foi causada principalmente pela crise econômica, avalia o diretor da ONG Amigos da Terra – Amazônia Brasileira, Roberto Smeraldi.
Ele comemora os números, mas afirma que a demanda por produtos agropecuários caiu muito, desestimulando fazendeiros a abrir novas áreas na floresta. “A conjuntura do período em que isso [o desmatamento] foi medido foge muito à normalidade. Um ano assim acontece a cada duas décadas.”
O levantamento divulgado pelo Inpe foi realizado entre agosto de 2008 e julho de 2009, e coincide com o período em que a economia brasileira registrou maus resultados por causa da crise econômica.
“Fecharam ou suspenderam as atividades 16 frigoríficos na Amazônia. Outros que funcionam trabalham abaixo da sua capacidade de abate”, afirma Smeraldi.
Segundo o diretor da Amigos da Terra, os 7 mil km² de desmatamento foram causados principalmente por especulação de terras e por assentamentos de reforma agrária. “Há pessoas que desmatam na expectativa de vender a terra, de conseguir regularização fundiária, como ocorre na rodovia BR-163 [Cuiabá-Santarém].”
Smeraldi afirma que cada assentado desmata pouco, mas eles são muito numerosos. “A pessoa desmata para comer o feijãozinho dele. Em geral, é um hectare por ano, ou menos, mas no governo Lula foram levadas aproximadamente 2,2 milhões de pessoas para a Amazônia”, diz.
A exploração de madeira não tem impacto imediato nas estatísticas, segundo o especialista, já que nessa atividade não há destruição total da floresta, fazendo com que o sistema Prodes – que mede a devastação anual – não leve essas áreas em consideração.
Desvio para o Cerrado
O diretor da ONG também alerta para a desvio da devastação para o Cerrado, que estaria perdendo espaço para pastos e plantações. “Não podemos fechar os olhos. Isso pesa em termos de emissão de carbono, de perda de biodiversidade, de [poluição da] água”, afirma.