Os resultados das primeiras autópsias de brasileiros que morreram por causa da gripe suína mostram um cenário de danos ao organismo que remonta às epidemias de influenza de 1918, 1954 e 1968: destruição dos alvéolos pulmonares, hemorragia alveolar, inflamação necrótica dos bronquíolos e sinais de falência múltipla dos órgãos. Os exames indicam também ter havido uma resposta exagerada do sistema imunológico contra o vírus, o que acabou por prejudicar os pulmões das vítimas.

No trabalho inédito de análise dos tecidos de 21 pessoas mortas pelo H1N1, cientistas do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP) apontam ainda que os piores danos pulmonares ocorreram na única paciente grávida analisada, o que confirma a importância da priorização dada a essas pacientes durante a epidemia.

O estudo foi publicado em outubro na revista científica “American Journal of Respiratory and Critical Care Medicine” e é um dos primeiros a revelar o resultado de autópsias de vítimas da nova gripe. “Em um cenário em que poucas autópsias foram realizadas, o estudo demonstra a extrema utilidade do procedimento (…) para o conhecimento da nova doença”, afirmam os autores do trabalho, liderados por Thais Mauad. “Mostramos que o pulmão é o órgão mais afetado, o que não é diferente das outras pandemias.”

Além disso, explica a pesquisadora, em alguns pacientes ficou demonstrado que o corpo, sem conseguir combater eficazmente o agente patogênico, tenta conter a replicação viral com um “armamento” imunológico tão pesado que acaba por lesionar os próprios pulmões.

Segundo o trabalho, os mortos pela gripe suína tinham em média 34 anos e eram em maioria homens. Além disso, 76% tinham comorbidades – problemas crônicos, como doenças cardíacas -, o que confirma que a infecção nesse público é muito perigosa. Os sintomas mais comuns foram falta de ar e febre, o que também condiz com as definições oficiais de casos graves.