Cientistas das Nações Unidas afirmaram, nesta terça-feira, que esta primeira década do século XXI é provavelmente a mais quente desde 1850, quando as temperaturas mundiais começaram a ser registradas.
A velocidade impressionante com que o gelo e a neve estão derretendo em várias partes do planeta, a gente vê na reportagem especial dos correspondentes Marcos Losekann e Paulo Pimentel.
Gota a gota. Litros e litros de água que um dia já foi gelo. Primeiro, filetes. Depois, rios. Por fim, lagos que nascem em locais inusitados.
O Imja, formado pelo degelo na cordilheira do Himalaia, é onde fica o Everest, o monte mais alto do planeta.
A imagem pode até ser bonita, mas o Imja não deveria estar aqui. Uma foto mostra que em 1956 ele não existia. A água que agora forma o lago ficava lá no alto, na forma de gelo.
“Pior não são os lagos”, explica o cientista. O problema é o nível do mar, pra onde corre a maior parte da água das geleiras derretidas. Os oceanos devem subir, em média, meio metro até 2050.
Se no topo do mundo, o gelo derrete, pior ainda nas montanhas mais baixas.
Na Rússia, vastidões geladas, que jamais ficavam descobertas, agora estão. Lagos glaciais são as últimas heranças do que já foi um mar de gelo. Fenômeno que preocupa no Polo Norte, onde a vida depende das geleiras.
Também na Austrália, onde o mar, em média 2ºC mais quente do que há 3 décadas, ameaça alguns dos maiores recifes de coral do planeta. Um drama universal, que não respeita fronteiras.
Na Europa, o problema é mais visível nos Alpes, onde as estações de esqui servem de ”termômetro”.
A cada inverno, as pistas estão localizadas em pontos mais altos, montanha acima, onde ainda existe neve.
Em busca desses redutos gelados, fomos conhecer Grenoble, no sudeste da França. O rio que corta a cidade é o primeiro sinal.
Costumava já estar parcialmente congelado nesta época do ano. Agora é só um rio, como outro qualquer. Rumo ao topo das montanhas que cercam a cidade, vamos conhecer o maior centro de medição de neve da Europa.
Nos últimos 50 anos, a temperatura média aqui nesta região dos Alpes franceses aumentou quase 2ºC. E isso, obviamente, refletiu na neve. Mais calor, menos gelo. A última vez em que a neve cobriu réguas de 3 metros de altura foi em 1970. De lá pra cá, foi baixando, baixando. Este ano, por enquanto, mal chega a meio metro. E se continuar desse jeito, no auge do inverno, não deve passar dos 90 centímetros.
O sub-chefe do Centro, Jean-Louis Dumas, afirma que a medição feita há 5 décadas não deixa dúvida: “A diminuição das nevascas, ano a ano, é lenta mas regular. Os gráficos mostram o declínio constante”.
Jean-Louis constata que o aumento médio da temperatura na terra é diretamente relacionado à diminuição da neve.
“Não arrisco culpar somente as pessoas”, diz ele. “Sabemos que os degelos também podem ser naturais e cíclicos. O que é certo é que o homem, ao descuidar do meio ambiente, pode estar contribuindo para esse fenômeno”.
Mesmo na Groelândia, região que pertence à Dinamarca e que tem tirado vantagem do degelo, as mudanças climáticas assustam.
Na terra que não tinha um palmo sequer descoberto de gelo, nem mesmo no verão, agora sobram extensas áreas nuas para a exploração de petróleo e minério.
Mas a pesca, que mata a fome da maioria da população, já não rende como antes. “Ganhamos algumas coisas com o degelo”, diz o pescador. “Mas perdemos muito também. Hoje em dia, os poucos peixes que conseguimos pescar têm menos da metade do tamanho de 15, 20 anos atrás.
O número de turistas também diminuiu”.
“Eles vinham ver os icebergs colossais que flutuavam há poucos quilômetros da costa”, diz um empresário. “Costumavam ser até 20 vezes maiores do que os que sobraram”.
Se contentar com o que sobrou, aceitar a sorte, inocentar o homem. Ou assumir parte da culpa e lutar para frear o aquecimento global?
Respostas que a humanidade espera dos líderes mundiais, que já se reuniram pra tratar do assunto no Rio, em 92, em Kioto em 97. E que agora, novamente, se juntam em Copenhague. A natureza pode não dar uma nova chance.