Observando a demanda crescente por novas alternativas de energia em substituição ao petróleo e o interesse do empresariado sucroalcooleiro na microrregião de Dracena, a pesquisadora Sônia Segatti decidiu estudar o impacto da expansão da cana-de-açúcar e a questão do desenvolvimento regional durante o curso de mestrado em Geografia na Unesp de Presidente Prudente.

O trabalho resultou na dissertação de mestrado “A expansão da agroindústria sucroalcooleira e a questão do desenvolvimento da microrregião de Dracena: desafios e perspectivas”, apresentada no último dia 4. O levantamento durou cerca de dois anos e, neste período, foram entrevistadas cerca de 70 pessoas entre diretores e gerentes de usinas, produtores de cana e outros atores deste segmento, englobando os dez municípios da microrregião de Dracena.

Sônia conta que o objetivo da pesquisa foi analisar os efeitos da expansão da monocultura da cana-de-açúcar na microrregião de Dracena, enfocando as contradições que ignoram os custos ambientais e sociais que afetam o pequeno produtor rural. Ela reconhece que com a expansão da cana-de-açúcar Dracena se tornou um polo, com benefícios para vários setores como comércio e serviços.

No entanto, ela destaca que sua preocupação é quanto aos pequenos e médios produtores que arrendaram suas terras. “Muitos desmancharam as benfeitorias na propriedade como cercas, casas, barracões, encanamentos; venderam o gado, considerado um patrimônio, e se tiverem que voltar à atividade não terão condições, pois estarão descapitalizados”, ressalta.

No período de dez anos que compreende a pesquisa, de 1995/96 a 2007/08, o estudo constatou que a cana-de-açúcar teve uma expansão de 1.355% na microrregião de Dracena. “Para alcançar esse nível, a cana-de-açúcar utilizou áreas que, até então, eram destinadas às pastagens ou a outras lavouras”, disse Sônia.

O impacto da expansão da cana-de-açúcar na pecuária foi significativo. A área destinada para pastagens passou de 233 mil hectares, em 1995/96, para 165 mil hectares em 2007/08, uma redução de 26%. Enquanto que o rebanho bovino baixou de 301 mil para 224 mil animais, com queda de 25,58%, ou seja, praticamente o mesmo índice de redução verificado nas áreas de pastagens.

A pesquisadora ressalta o fato da lotação do pasto, ou seja, o número de cabeças por hectare ter sofrido em dez anos uma redução mínima. “A redução foi de apenas 0,04 cabeças por hectare. O que constituiu uma surpresa. Esperava que com a diminuição das pastagens, o produtor investisse em novas tecnologias. Mas não houve esse investimento. O que significa que com a diminuição das áreas destinadas aos pastos, o gado foi transferido para outras regiões”.

A pesquisadora ainda considera que é preciso avaliar quais as consequências destas transformações ao meio ambiente e à sociedade. Ela reforça que o trabalho deve servir de referência para que os governos Federal, Estadual e Municipal possam elaborar políticas públicas a fim de evitar futuros problemas sociais e ambientais. Também chamou a atenção para a política de Governo, que é instável, e hoje está voltada ao Pré-Sal, dificultando a vinda de capital para as usinas, o que, segundo ela, de certa forma é perigoso para região, que tem um percentual de dependência grande das usinas.

Neste sentido, Sônia ressalta a importância das prefeituras das cidades investirem em novas frentes de trabalho. Outro detalhe citado pela pesquisadora é que nestes dez anos não houve concentração de terra na região, mas o contrário, aumentaram as pequenas propriedades. Sônia afirma que isso é positivo, porém, caso as usinas tenham problemas, pode haver uma reversão deste quadro, trazendo grandes problemas.

ARTE – O trabalho também foi enriquecido com as obras impressionistas e cubistas do pintor Fuzinatto, cujo nome de registro é Osvaldo Dias Junior, filho de pequeno produtor rural, nascido e criado na área rural no município de Junqueirópolis. Hoje, o artista se destaca nas grandes metrópoles brasileiras e na Itália. Sônia conta que as pinturas de Fuzinatto foram utilizadas para retratar aspectos históricos da região na época do café, do gado, da cana, mostrando a modificação da paisagem.