Ferramenta de comunicação e lazer, a internet pode viciar e comprometer aspectos da vida social do indivíduo. No Hospital das Clínicas de São Paulo, o Centro de Estudos de Dependência da Internet já atendeu 200 pessoas em três anos de funcionamento. O perfil dos dependentes não se resume a crianças e adolescentes: adultos e idosos preferem, cada vez mais, optar por uma vida virtual à real.
“Ao contrário do álcool e das drogas, por exemplo, não há nenhuma campanha de prevenção e controle ao uso da internet. As pessoas não fazem ideia do perigo”, explicou o psicólogo Cristiano Nabuco, responsável pelo centro.
O especialista alerta que a dependência de internet é um problema de saúde pública e defende a necessidade de investimento em campanhas educativas com orientações sobre o uso da web.
“Uma campanha para prevenir o vício em internet é necessária. Com a inclusão digital, o número de dependentes tende a explodir em pouco tempo”, alertou. Ele explicou que todos estão sujeitos ao vício digital. “Atinge independentemente de idade e classe social. Tive uma paciente de 45 anos que acordava todos os dias às 4h30 para colher morangos de um jogo virtual. Outro, um adolescente de 13 anos, não levantava do computador nem para ir ao banheiro.”
Segundo Nabuco, o vício não se resume aos jogos: programas de conversas instantâneas, websites e redes sociais também podem viciar. “A internet é conhecida entre as pessoas como forma de lazer e é usada para atividades escolares. É aí que mora o perigo, pois a sociedade acha o seu uso absolutamente normal.”
Abdicar de atividades com a família para ficar em frente ao computador ou perder o controle do tempo e ficar horas online podem ser sintomas da dependência.
“Passei minha adolescência toda ligada em jogos na internet”, disse o estudante Ariel Lourenço dos Santos, que já chegou a ficar mais de 12 horas seguidas online. Para ele, o passatempo nunca foi encarado como um vício. “Você nunca acha que é viciado, embora deixe de fazer outras coisas.”
A vida de Santos mudou quando ele entrou na faculdade de Economia e passou a namorar. “Agora tenho mais atividades e não tenho tempo para ficar na internet”, disse.
Para o psicólogo, a chave para se livrar da dependência é reconhecer que o tempo na frente do computador é excessivo. “Ninguém come ou faz ginástica o dia inteiro. O importante é balancear e colocar um tempo para internet semelhante ao de outras atividades”, afirmou Nabuco.