Com seis prêmios, “Guerra ao Terror” foi o grande vencedor da 82.ª cerimônia do Oscar da Academia de Artes e Ciências Cinematográficas de Hollywood. Kathryn Bigelow fez história ao ser a primeira mulher a conquistar o prêmio de melhor direção. Só outras três haviam sido indicadas: Lina Wertmüller (Pasqualino Sete Belezas, de 1976), Jane Campion (O Piano, 1993) e Sofia Coppola (Encontros e Desencontros, 2003).
A surpresa foi total, pois a aposta era por um equilíbrio das premiações: “Avatar” como melhor filme e Kathryn, melhor diretora. A diferença entre os dois é que o primeiro custou caro, usou alta tecnologia e arrecadou a maior bilheteria da história do cinema, faturando perto de US$ 3 bilhões. Seu diretor, James Cameron, superou seu próprio recorde de 12 anos atrás com “Titanic”, que também arrebatou o público de cinema de todo o mundo. Levou apenas três prêmios: fotografia, direção de arte e efeitos visuais.
Já “Guerra ao Terror”, um filme de baixo orçamento sobre a guerra do Iraque, teve de ser rodado na Jordânia e conquistou os principais prêmios da noite: filme, direção, roteiro original, montagem, mixagem de som e edição de som. Kathryn, que foi casada com James Cameron, andava distante das câmeras e, dizem, foi incentivada pelo ex para dirigir o filme. Seu título mais conhecido é “Caçadores de Emoção”, de 1991, com Keanu Reeves e Patrick Swayze.
“Este é o grande momento de minha vida e se não fosse por Mark Boal, que arriscou a vida escrevendo esse roteiro, isso não estaria acontecendo. Dedico esse prêmio às mulheres e homens que são militares e arriscam suas vidas diariamente”, disse Kathryn.
O longa mostra o dia a dia de um grupo do esquadrão que desarma bombas no Iraque, a relação entre seus membros e os momentos de tensão pura que enfrentam diariamente. A polêmica tese defendida é que, para os soldados que se alistam para servir no Iraque, a guerra torna-se espécie de vício. O roteiro foi escrito pelo jornalista Mark Boal, que passou uma temporada “embedado” no esquadrão de bombas da região.
A festa do Oscar teve outra boa surpresa: o prêmio de melhor filme estrangeiro foi para o argentino “O Segredo dos Seus Olhos”, dirigido por Juan Jose Campanella, com o grande ator argentino Ricardo Darío como protagonista, e não para o favorito “A Fita Branca” de Michael Haneke (Alemanha), amplamente premiado por tratar da gênese do nazismo. Já o filme de Campanella (“O Filho da Noiva”) conta uma história de amor entremeada a uma investigação de assassinato durante o período em que a Argentina vivia sob ditadura.
Atores e atrizes, vencem os favoritos
O Oscar 2010 teve uma cerimônia leve e bem animada pelos humoristas Steve Martin e Alec Baldwin, que logo na abertura brincaram com os atores e atrizes. Claro, não podiam deixar de brincar com Meryl Streep. Primeiro, por sua 16.ª indicação ao prêmio, um recorde absoluto. Depois, por que dividiu a cena com eles no filme que está em cartaz no Brasil, “Simplesmente Complicado”, cuja personagem vira amante do ex-marido (Alec Baldwin) enquanto é casada com outro (Steve Martin). “Um inesquecível ménage à trois”, brincaram eles. E ainda tiraram óculos 3-D para ‘procurar’ James Cameron na plateia.
Mas Meryl não venceu desta vez. Sandra Bullock faturou o cobiçado Oscar de melhor atriz ao sair pela primeira vez do gênero comédia romântica que marca sua carreira e encarar um papel sério em “Um Sonho Possível”. Ironicamente ela ganhou na mesma noite o Framboesa de Ouro, dado aos piores do ano sempre antes da premiação da Academia. E ela foi buscar o troféu, pela comédia romântica “Maluca Paixão”, que lhe rendeu também o prêmio de pior dupla em cena do ano, com o companheiro Bradley Cooper.
Também confirmando as expectativas, Mo’Nique venceu o Oscar de melhor atriz coadjuvante, por seu trabalho em “Preciosa – Uma História de Esperança”, em que interpreta uma mãe do bairro nova-iorquino do Harlem que maltrata a filha, uma jovem obesa, analfabeta e grávida do próprio pai. Atriz mais conhecida na televisão, onde mantém o talk show The Mo’Nique Show.
Entre os atores, Jeff Bridges, um queridinho no meio cinematográfico, conquistou seu primeiro Oscar no papel do cantor country decadente Bad Blake, após cinco indicações e muitos filmes no curriculum. Filho e irmão de atores, Lloyd e Beau Bridges, seu filme revelação foi “A Última Sessão de Cinema”, em 1971. Também fez filmes cults – como “Tron”, “Starman” e “O Grande Lebowski” e só recentemente encarou um blockbuster, atuando em “Homem de Ferro”.
E Quentin Tarantino e seu “Bastardos Inglórios”, que recebeu oito indicações, ficou sem seu Oscar de melhor diretor. Mas revelou o talento do ator austríaco Christoph Waltz, de 53 anos, muito conhecido nos teatros de Viena e um dos intérpretes mais respeitados da Áustria e em séries de TV, mas distante das telas do cinema. Nesse sentido ele foi praticamente uma revelação de Tarantino. Venceu em Cannes e no Oscar como melhor ator coadjuvante.
A 82.ª cerimônia do Oscar que inovou este ano ao ampliar para dez o número de indicados à categoria principal de melhor filme. Mais ainda ao incluir entre eles a animação “UP – Altas Aventuras”, do estúdio Pixar. Foi a segunda vez que uma animação, por muitos anos um gênero menosprezado pela Academia, recebeu uma indicação como esta. O primeiro indicado foi “A Bela e a Fera”, em 1991. O desenho animado encantou crianças e adultos com a história do velhinho ranzinza e aventureiro Carl Fredricksen que depois da morte da mulher decide realizar o sonho dos dois.