O governo do Chile aumentou nesta segunda-feira, 1º, para 711 o número de mortos em decorrência do terremoto de 8,8 graus na escala Richter registrado na madrugada de sábado e afirmou que a estimativa ainda pode aumentar. Enquanto as autoridades avaliavam os danos causados pelo tremor, milhares de pessoas saqueavam comércios em busca de algo para comer.
O desespero entre a população aumentou ainda mais na manhã de ontem, quando outro abalo de 6,1 graus voltou a sacudir o território chileno. Até agora, 1,5 milhão de casas foram danificadas pelo tremor e mais de 2 milhões – ou 12,5% dos 16 milhões de habitantes do Chile – foram afetados. O caos generalizado fez com que a presidente Michelle Bachelet decretasse estado de exceção de catástrofe nas regiões de Maule e Concepción, as mais devastadas pelo terremoto, além de um toque de recolher.
Bachelet reconheceu o problema de ordem pública criado pelos saques e nomeou o general Guillermo Ramírez como responsável pela segurança em Concepción. Ontem, milhares de pessoas desesperadas saquearam dezenas de comércios no centro e bairros da periferia da cidade.
Resignados, para evitar mais mortes, a policia não reprimiu as saqueadores, dos quais faziam parte também mulheres idosas e crianças. Os policiais somente intercediam para evitar brigas entre eles.
Os comerciantes, angustiados, reclamavam da falta de ação das forcas de segurança. Em alguns locais, porém, gás lacrimogêneo e jatos d”água foram usados para dispersar a multidão.
“Preciso destas coisas, pois são elementos de primeira necessidade”, afirmou ao Estado Josefa, uma jovem que saía de um supermercado empurrando um carrinho com uma TV LCD, papel higiênico, desodorantes e várias garrafas de uísque.
No entanto, a maioria das pessoas levava comida e água. “Morro de vergonha de roubar. Eu vim aqui com a intenção de comprar”, disse Lucia, uma aposentada. Para demonstrar suas intenções sinceras, abriu a bolsa e mostrou sua carteira com dinheiro. “Mas não houve jeito. As caixas não estavam abertas. Tive de agir como uma ladra. Nunca fiz isso antes.”
A prefeita de Concepción, Jacqueline van Rysselberghe, disse que a situação na cidade estava “fora de controle”. “Precisamos do Exército”, disse a prefeita. “Não podemos deixar que as pessoas defendam suas posses porque assim a lei do mais forte prevalecerá.”
DISTRIBUIÇÃO DE ALIMENTOS
Após reunião no Palácio de La Moneda, em Santiago, com o ministro da Fazenda, Andrés Velasco, donos de redes de supermercado de todo o país pediram calma à população, afirmando que o abastecimento de alimentos está garantido para todos. Bachelet também anunciou um acordo com os supermercadistas das zonas afetadas para distribuir gêneros de primeira necessidade de forma gratuita e ordenada. A medida tem como objetivo pôr fim aos saques.
No início da tarde, na esquina da Rua Padre Hurtado com a Avenida Los Carrera, em Concepción, 50 policiais, bombeiros e integrantes da Defesa Civil apressavam-se em salvar dos escombros os sobreviventes do Edifício Borderrio. O subcomissário Jorge Guerra afirmou que oito pessoas ainda estavam vivas sob os escombros do prédio, que tinha 125 apartamentos.
O centro foi área mais afetada da cidade. A imponente estátua do herói da independência, Bernardo O”Higgins, caiu do pedestal e quebrou-se. Nos arredores, grupos de pessoas saqueavam farmácias e lojas de eletrodomésticos.
Mais de 400 pessoas saquearam dois postos de gasolina na cidade. “O terremoto tirou das pessoas o seu pior lado”, lamentou Viviana Salazar, residente da Rua Juan Martínez de Rosas, nas redondezas do centro de Concepción.
O Chile está localizado sobre a intersecção de duas placas geológicas que constituem uma das principais zonas sísmicas do mundo. O tremor de sábado foi o pior já registrado em território chileno desde 1960, quando um terremoto de 9,5 graus na escala Richter – o maior de que se tem notícia – ocorreu no país.