Amazonas, Bahia, Ceará e Alagoas são alguns dos Estados que se beneficiarão do programa de expansão da indústria naval, que já tem investimentos comprometidos de R$ 4 bilhões. O valor corresponde a nove projetos que receberam prioridade para análise pelo Fundo de Marinha Mercante (FMM) e crescerá após o resultado da licitação para 28 sondas de perfuração da Petrobrás.
A enxurrada de novos projetos preocupa o BNDES, que iniciou um estudo para avaliar qual a real necessidade do parque naval brasileiro.
O objetivo é evitar riscos de empréstimos a estaleiros que terão poucos contratos no longo prazo. “Queremos uma indústria sustentável”, diz o gerente do departamento de petróleo e gás do BNDES, Luiz Marcelo Martins. “É preciso um maior planejamento para evitar situação como a das décadas de 1970 e 1980, com a construção de muitos estaleiros sem demanda de longo prazo”, afirma Martins.
Nove projetos. Os R$ 4 bilhões aprovados pelo FMM referem-se a nove projetos, oito deles de construção de novos canteiros e um de modernização. O maior deles será construído pela Odebrecht na foz do rio Paraguaçu, na Bahia, ao custo de R$ 1,631bilhão. Já o Estaleiro Ilha S.A. (Eisa), do grupo Synergy, prevê a abertura de um canteiro em Alagoas, orçado em R$ 1,222 bilhão.
O fundo passou a operar como uma espécie de BNDES para o setor naval, financiando a construção de embarcações e, agora, a abertura de estaleiros a condições especiais. Os recursos vêm do Adicional de Frete da Marinha Mercante (AFMM), taxa cobrada sobre o frete no transporte marítimo.
Diante do crescimento das consultas, o fundo teve de receber um aporte de R$ 15 bilhões do governo em dezembro. O fundo analisa pedidos de financiamento de R$ 14 bilhões, incluindo estaleiros, navios e embarcações.
Novos investidores. A lista é um bom indicador sobre o futuro da indústria naval, que hoje conta com três antigos canteiros de grande porte no Rio (Mauá, Eisa e Brasfels) e dois estaleiros inaugurados recentemente (Rio Grande e Atlântico Sul). Mas não é um retrato fiel, pois há projetos divulgados que não pediram financiamento e outros que estão sendo negociados para a licitação da Petrobrás.
No primeiro caso, enquadra-se o estaleiro da OSX, de Eike Batista, para Santa Catarina. Orçado em US$ 1 bilhão, o projeto será a porta de entrada no País da Hyundai. “A Hyundai vê o impressionante crescimento do mercado brasileiro de óleo e gás e sente que seria benéfico ter uma base de operações no Brasil”, disse a empresa, em nota ao Estado.
Mesmo caminho pretendem fazer seus principais concorrentes, como Daewoo, Samsung e Jurong, que já esteve no Brasil em parceria com o Mauá. Esse último, por exemplo, obteve em março licença ambiental para a construção de um estaleiro em Aracruz, no Espírito Santo, com investimento de US$ 500 milhões. O negócio é um segundo passo da empresa no País, após desfazer parceria com o estaleiro Mauá, no Rio.
A profusão de novos negócios é reflexo da política governamental de privilegiar as encomendas no Brasil.
“Apenas com o que já se conhece do pré-sal, dá para projetar um potencial de encomendas excepcional”, diz Martins, do BNDES. Dados do Sindicato Nacional da Indústria de Construção e Reparo Naval (Sinaval), projetam 45 novas plataformas e 70 navios petroleiros somente da Petrobrás.
A carteira de encomendas atual conta com 130 navios, 3 plataformas de produção, 3 plataformas de perfuração. Para 2010, já estão prometidos 17 navios, 9 sondas de perfuração, 8 cascos de plataformas, 2 plataformas e 20 comboios fluviais.