Se cumprir todas as metas previstas pelo Plano Brasil 2022, no ano de seu bicentenário da Independência, o país terá erradicado o analfabetismo, a miséria e a desnutrição, bem como amenizado as disparidades social, de gênero e racial. Além disso, a qualidade de vida da população estará melhor graças a investimentos em infraestrutura, em especial a de transportes públicos. A expectativa é de que o bem estar do brasileiro fique mais próximo ao dos cidadãos de países desenvolvidos.

O cenário otimista consta da primeira parte do Plano Brasil 2022, divulgada hoje (27) pelo ministro da Secretaria de Assuntos Estratégicos (SAE), Samuel Pinheiro. “Nosso objetivo é o de sermos um país desenvolvido. Certamente isso não será alcançado em 2022 porque a renda per capita estará ainda em apenas US$ 12 mil. Mas teremos dado um passo muito significativo nesse sentido”, afirmou o ministro.

Segundo ele, a diferença da renda per capita é um indicador levado em consideração pelo estudo. Atualmente, a do Brasil é de US$ 7 mil, enquanto a dos Estados Unidos é de cerca de US$ 46 mil. “Se não crescermos a uma taxa entre 6,5% e 7%, nossa situação comparativa ficará pior”, avalia.

“Temos de ter como lema a ideia de distribuir [renda] para crescer, no sentido de formação firme do mercado interno e ao mesmo tempo de ter uma política firme de redução das disparidade no mais diversos âmbitos, para que não permaneçamos como uma sociedade dividida”, argumenta o ministro, referindo-se às disparidades regionais e de renda existentes no país.

Encomendado à SAE pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o Plano Brasil 2022 fixa metas a serem alcançadas pelo país até aquele ano. “Isso tudo implica em um esforço muito grande nos mais diferentes setores. Queremos índices de distribuição de renda muito menos graves do que os de hoje, e que a massa salarial aumente, para que [em 2022] não haja mais brasileiros analfabetos, desnutridos ou em situação de pobreza absoluta”.

Para o ministro, a questão do transporte público merece atenção especial porque boa parte do tempo do brasileiro é gasta no trânsito entre a casa e o trabalho. “Isso está diretamente relacionado à qualidade de vida que é expressa também pela capacidade de mobilidade dentro das cidades, [uma vez que] o Brasil é um país que é cada vez mais urbano.”

Ele prevê que haverá um equilíbrio maior dos sistemas de transporte, com uma ampliação dos sistemas ferroviário e hidroviário, equiparando-os ao rodoviário. “Integrando os sistemas de transportes daremos mais eficiência para a economia nacional, reduzindo custos e tempo gasto. Isso terá efeito direto nas exportações e no custo Brasil. Claro que, nesse contexto, é também necessária a ampliação e a diversificação das matrizes energéticas.”

Para que as metas do plano sejam alcançadas, Pinheiro defende investimentos na “infraestrutura social” – termo utilizado para referir-se às áreas de educação e saúde. “É fundamental que a população tenha acesso à educação no horário integral, para que consigamos erradicar o analfabetismo e o analfabetismo funcional.”

Na área da saúde, destacou a necessidade de ações que visem facilitar o acesso da população a medicamentos. “É notório o fato de que os preços dos medicamentos apresentados pela indústria farmacêutica são muito mais elevados do que o custo de produção. A fabricação de genérico demonstra isso. Temos uma grande capacidade de produção de fármacos no Brasil, e a saúde é fundamental para o bem estar pretendido para a população.”

Nas previsões da SAE consta também a universalização da formalidade do emprego e a necessidade de se estabelecer metas de redução da vulnerabilidade externa. “Começamos isso com a diversificação das exportações, tendo como estratégia a de que nenhum país detenha mais do que 10% das exportações brasileiras. A crise recente mostrou que os países com exportações muito concentradas em poucos mercados são os mais prejudicados”, argumenta.

O Plano Brasil 2022 prevê ainda ações na área ambiental. “Prevemos, até para antes desse prazo, o desmatamento zero tanto da Amazônia como do Cerrado”, afirma. “Essa tendência já vem sendo percebida e é decorrente de ações concentradas do governo federal com os estaduais”.

A pedido do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o plano vem sendo tocado pela Secretaria de Assuntos Estratégicos (SAE), mas envolve grupos de trabalho de diversos ministérios, Casa Civil e consultas a ex-ministros, governadores, entidades sindicais e técnicos do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea). Ele encontra-se, segundo a SAE, em fase final de elaboração e será entregue no dia 30 de junho ao presidente Lula.