Há dez anos, as nações africanas reuniram-se em Abuja, na Nigéria, para discutir formas conjuntas de combater a malária, a doença que mais mata no mundo. Do encontro surgiu a Carta de Abuja, com metas e objetivos comuns. Alguns esforços tiveram resultado, como a redução de impostos em vários países (mas nem todos) sobre redes mosquiteiras e a destinação de mais verba para o combate à doença, com a criação de um Fundo Global.

O combate à malária trouxe a melhora do quadro em Moçambique nesses dez anos, mas ainda há um longo caminho a ser percorrido, explica o diretor adjunto de Saúde Pública do Ministério da Saúde moçambicano (Misau), Leonardo Chavane. “Sessenta por cento do nosso orçamento de saúde ainda dependem de financiamento externo”, afirma.

A malária ainda é o maior motivo de procura dos serviços de saúde em Moçambique, bem como a principal causa de morte, principalmente de grávidas e crianças de até 5 anos. Comparando dados do primeiro trimestre de 2009 e deste ano, o número de mortes caiu de 853 para 385 no país. Mesmo assim, o total de casos no ano passado foi de 4 milhões, com 2.400 mortes, para uma população de 22 milhões de pessoas. Em 2008, foram 5 milhões de casos e 3 mil óbitos, aproximadamente.

Segundo Chavane, a melhora é resultado do incremento na pulverização doméstica, da distribuição de redes mosquiteiras, de maior preparo das equipes de saúde e do fortalecimento da difusão de informações. Para o diretor, o resultado poderia ser melhor com mais auxílio externo.

“Na pulverização doméstica, tínhamos como meta aumentar dois distritos por província [o equivalente ao estado brasileiro] no ano passado. Não foi possível por falta de recursos. Já chegamos a cerca de 45 distritos em todo país, mas pretendíamos estar em 128”, afirma Chavane. “E onde há pulverização é clara a redução dos casos”, completa.

Para João Schwalback, um dos maiores especialistas em malária de Moçambique e da África e ex-diretor da Faculdade de Medicina da Universidade Eduardo Mondlane, a verdadeira solução para a malária não está somente nos hospitais ou laboratórios. “A cura verdadeira será o desenvolvimento”, diz. “Melhores habitações, mais e melhor comida, mais água encanada, mais janelas com vidros, estradas mais transitáveis. Só combinando todas essas armas nós vamos vencer a malária”.