Entre 2008 e 2010, uma área equivalente à de 12,5 mil campos de futebol foi devastada em Minas Gerais. O estado é o campeão de desmatamento da Mata Atlântica no período, de acordo com os novos dados do Atlas dos Remanescentes Florestais da Mata Atlântica, divulgado hoje (25) pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) e pela Fundação SOS Mata Atlântica.
Em relação ao atlas anterior, com dados de 2005 a 2008, houve aumento de 15% na taxa anual de desmate em Minas Gerais. De acordo com a diretora de Gestão do Conhecimento e coordenadora do atlas pela SOS Mata Atlântica, Márcia Hirota, o crescimento está relacionado à expansão da fronteira agropecuária e principalmente à produção de carvão vegetal para usinas siderúrgicas da região. “A Bacia do Jequitinhonha é hoje a mais ameaçada do país.”
O município de Porto dos Volantes, na região do Jequitinhonha, registrou sozinho 3,2 mil hectares de desmatamento, mais que o dobro da devastação somada dos estados do Rio de Janeiro, de São Paulo, Mato Grosso do Sul, do Espírito Santo e de Goiás no mesmo período
“No caso do carvão, é possível resolver o problema, muitas siderúrgicas já partiram para fazer o plantio. Não é só proteger o bioma, o mico-leão, estamos falando de gente sendo usada como mão de obra escrava, dentro dos fornos de carvão. Passam os anos e não vemos a presença do Poder Público, são lugares conhecidos”, acrescentou o diretor de políticas públicas da ONG, Mário Mantovani.
Nove estados do bioma foram avaliados para o atlas: Rio de Janeiro, São Paulo, Mato Grosso do Sul, Espírito Santo, Goiás, Minas Gerais, Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul. Os estados nordestinos com Mata Atlântica não foram mapeados por causa da cobertura de nuvens e devem ter os dados incluídos até o fim do ano.
O Paraná aparece como segundo colocado no levantamento. De 2008 a maio de 2010, a taxa anual de desmatamento da Mata Atlântica foi de 2,7 mil hectares. O estado, que tinha 98% de seu território coberto pelo bioma, hoje tem apenas 10,5% de floresta remanescente.
Apesar de reduzir o desmate em 75% em relação ao período anterior (2005-2008), Santa Catarina é o terceiro estado listado pelo atlas entre os que mais desmataram o bioma costeiro. A taxa anual de desflorestamento registrada pelo Inpe foi de 2.143 hectares. A queda expressiva pode estar ligada às catástrofes naturais que atingiram o estado nos últimos dois anos e que podem ter freado a economia e a demanda por produtos florestais.
“Foi uma surpresa que merece estudos. Porque a lei lá continua ruim, induz a degradação. Santa Catarina é um dos estados que mais se voltou contra a Lei da Mata Atlântica”, avalia Mantovani.
O Rio Grande do Sul registrou aumento de 83% na taxa de desmatamento anual, que saiu de 1.039 hectares/ano para 1.897 hectares/ano.
De acordo com o atlas, Minas Gerais, Paraná e Santa Catarina são as áreas mais críticas para a Mata Atlântica, pois concentram grandes porções do bioma, o que acaba resultando em desmatamentos de grande extensão.
A conservação do que restou e a recuperação do bioma dependem de fiscalização e do desenvolvimento de negócios sustentáveis, como o ecoturismo, segundo Márcia Hirota. A coordenadora também destaca o papel das Reservas Particulares do Patrimônio Natural (RPPNs). “Já são mais de 700 no bioma. A maior parte do que resta de Mata Atlântica, mais de 80%, está nas mãos de particulares, temos que ajudá-los a preservar”.