Para combater as chamadas doenças negligenciadas, típicas de regiões pobres da América Latina e da África, a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), ligada ao Ministério da Saúde, está interessada em novas parcerias com a farmacêutica belga GlaxoSmithKline (GSK), com a qual mantém relações há cerca de 20 anos.
Durante visita hoje (19) do herdeiro do trono da Bélgica, príncipe Philippe, à sede da fundação em Manguinhos, na zona norte do Rio, acompanhado por uma comitiva de empresários, o presidente da Fiocruz, Paulo Gadelha, pretende reforçar o diálogo sobre o assunto.
“Vamos propor cooperação ou linhas de atuação conjunta”, afirmou. “A parceria em áreas de doenças negligenciadas é prioritária para o Brasil e para o circuito de atuação da Fiocruz na América do Sul e na África. A ideia é de que nessa parceria a gente possa desenvolver produtos ligados à doença de Chagas, à malária e a outras doenças negligenciadas”.
De acordo com Gadelha, pesquisas nessa área são consideradas menos lucrativas para as farmacêuticas, que incentivadas por organismos multilaterais estão atuando com maior “senso de responsabilidade social”, disse. No caso da Glaxo, um importante centro de estudos de doenças negligenciadas funciona na Espanha, em condições de trocar tecnologia com a Fiocruz. “Fizemos uma visita. Eles têm uma grande instalação”, contou.
Desde a década de 80, a Fiocruz e a GSK mantêm parcerias. A primeira permitiu a produção da vacina contra a poliomielite (paralisia infantil) no Brasil. No último acordo, fechado em 2009, ficou estabelecida a compra e a troca de tecnologia para a produção de vacina contra a bactéria pneumococo, responsável pela morte de cerca de 1,5 mil crianças menores de cinco anos anualmente, além de milhares de internações.
Segundo o presidente da Fiocruz, esse acordo também pode facilitar a parceria na área de doenças negligenciadas. É que o contrato estabeleceu ainda cooperação científica para a produção de imunizantes contra a dengue, febre amarela inativada e malária. As pesquisas, cujos resultados terão patentes compartilhadas, são conduzidas por um comitê formado pela Fiocruz e a GSK, com intercâmbio de técnicos e cientistas.
Embora a cooperação com outras empresas não esteja descartada – “temos acordos em estágio de confidencialidade”, disse Gadelha – , a preferência pela GSK se deve aos avanços tecnológicos conquistados nos últimos anos. O presidente da Fiocruz lembra, no entanto, que a farmacêutica belga também sai ganhando ao firmar acordos com o Brasil.
“A vantagem para eles é a abertura de um mercado significativo. A magnitude do mercado brasileiro é um enorme diferencial, já que o país tem um dos programas de imunização mais eficientes do mundo e o governo fornece gratuitamente essas vacinas. A contrapartida é a incorporação de tecnologia e a abertura de centros de pesquisa”, explicou.
Atualmente, a Fiocruz recebe da GSK tecnologia para a produção da vacina tríplice viral (contra sarampo, rubéola e caxumba), que deve terminar até o fim deste ano o processo de assimilação de imunizantes contra o rotavírus, com nacionalização prevista para 2013. Também será produzida a vacina contra a bactéria pneumococo, com a transferência total prevista para 2017.