O vazamento de petróleo no Golfo do México iniciou uma nova onda de questionamentos no setor de indústrias petroleiras a respeito da segurança de perfurações em águas profundas, de acordo com declarações à BBC de um dos mais importantes inspetores do setor na Grã-Bretanha.
A explosão no poço da companhia britânica British Petroleum (BP) a 1.524 metros de profundidade obrigou as petroleiras a rever suas tecnologias e sistemas, de acordo com Donald Dobson da Health and Safety Executive.
Em uma entrevista concedida em Aberdeen, um dos mais importantes centro de apoio para perfurações de petróleo no mar, Dobson afirmou que entidades reguladoras do setor e a indústria petroleira agora estão questionando se podem perfurar em busca de petróleo com segurança, se seus sistemas são adequados, se eles identificaram de forma adequada os riscos, se avaliaram estes riscos corretamente e estão tomando as precauções corretas para evitá-los no futuro.
“O que está acontecendo agora é que a indústria está analisando a forma como faz as coisas, checando se estão seguindo os procedimentos corretamente e se eles não estão, de forma inadvertida, se afastando das boas práticas, tendo certeza de que seus equipamentos estão funcionando da forma que deveriam”, afirmou Dobson.
“(O vazamento) Está fazendo as pessoas voltarem e checarem em dobro as coisas que eles já tinham como garantidas no passado.” Riscos Os comentários de Dobson foram feitos em um momento em que em que os temores a respeito de poços submarinos profundo aumentam.
O governo dos Estados Unidos impôs uma moratória de seis meses, proibindo novas perfurações submarinas enquanto o desastre com a plataforma da BP é investigado.
Dobson, que lidera uma equipe de inspetores que monitoram a segurança de poços de petróleo e gás na Grã-Bretanha, identifica vários fatores que aumentam os riscos de operações submarinas profundas.
Uma delas seria que a distância da plataforma para o fundo do mar significa que os sistemas hidráulicos, aqueles usados para fechar um poço durante uma emergência, por exemplo, poderão não responder com a velocidade desejada.
Águas mais profundas que 400 metros estão além do alcance dos mergulhadores e, apesar de os veículos por controle remoto estarem cada vez mais sofisticados, existem limites para sua eficácia. Um destes veículos pode “apertar botões e virar cabos, mas é só” o que podem fazer.
As temperaturas são tão baixas nas profundezas que, se ocorrer um vazamento em um oleoduto, levando petróleo para a superfície, as águas geladas podrão congelar o metano que flui com o petróleo e bloquear o fluxo.
Águas mais profundas A preocupação com riscos aumenta em um momento em que a indústria petroleira está tentando ir cada vez mais fundo nos mares em sua busca por novos poços de petróleo.
E o exemplo do Golfo do México é o de maior destaque.
O Serviço de Gerenciamento de Minerais dos Estados Unidos, que cuida do setor petrolífero, informou que em 1997 foram registrados 17 projetos de produção de petróleo em águas profundas na região – comparados com 141 em 2008.
No mundo todo, projetos em águas profundas estão ocorrendo no Brasil, Angola e na Ásia. De acordo com a ODS-PetroData, existem 160 campos de petróleo em águas profundas em produção com outros 88 sendo planejados.
Alguns estimam que cerca de metade de todo o petróleo extraído no oceano agora está vindo de fontes em águas profundas.
E isto só é possível com os avanços tecnológicos, que eram inimagináveis há uma ou duas décadas atrás. Por exemplo, com robôs sofisticados.
A procura deve aumentar. As descobertas de novas reservas de petróleo em terra estão diminuindo, ou então são relativamente inacessíveis, e as descobertas em águas mais rasas tendem a ser de reservas pequenas.
Mas, como os eventos no Golfo do México mostram, operações pioneiras nas profundezas do oceano apresentam riscos.
E a velocidade na qual um vazamento e a mancha de petróleo são contidos poderá determinar a rapidez com que o progresso da indústria petroleira no fundo dos oceanos deve continuar.