O Brasil registrou em junho o segundo maior déficit em transações correntes de toda a série do governo, o que levou o saldo negativo acumulado em 12 meses a superar 2 por cento do PIB pela primeira vez desde 2002.

O déficit mensal, de 5,180 bilhões de dólares, veio bem acima do esperado pelo mercado e pelo próprio Banco Central e superou a soma dos investimentos estrangeiros diretos e em portfólio.

Segundo o chefe do Departamento Econômico do BC, Altamir Lopes, a elevação do déficit em relação ao estimado ocorreu por conta de uma aceleração das remessas de lucros e dividendos ao final do mês. Essa conta somou 4,156 bilhões de dólares, também o pior resultado para junho da série, que teve início em 1947, com destaque para as remessas feitas pelo setor automotivo.

A conta de viagens também pesou ao registrar o pior déficit da série, de 909 milhões de dólares.

“As remessas foram bastante elevadas, mas em linha com o estoque de investimento estrangeiro direto e de investimentos em carteira no país”, afirmou Lopes a jornalistas ao comentar os dados divulgados pelo BC nesta segunda-feira.

O déficit em transações correntes do país tem crescido, refletindo o fato de a economia brasileira estar se expandindo acima da média mundial –o que aumenta a demanda por bens e serviços importados, alavanca as remessas e limita as exportações.

Analistas consultados pela Reuters esperavam déficit de 3,45 bilhões de dólares em junho, segundo a mediana das projeções, enquanto o BC apostava em saldo negativo de 2,8 bilhões de dólares. Há um ano, o déficit havia sido de 575 milhões de dólares.

No primeiro semestre, o déficit acumulado foi de 23,762 bilhões de dólares, pior desempenho já registrado de janeiro a junho. Em 12 meses, o saldo negativo é equivalente a 2,13 por cento do Produto Interno Bruto (PIB).

Para julho, o BC agora prevê que o déficit em transações correntes desacelere para 3,7 bilhões de dólares.

INVESTIMENTO DECEPCIONA

Os investimentos estrangeiros diretos somaram 708 milhões de dólares em junho, os mais baixos desde maio de 2007, quando foram de 497 milhões de dólares. O saldo foi menos da metade do 1,5 bilhão de dólares previsto pelo BC no mês passado.

Segundo Lopes, o saldo caiu com retornos elevados de investimentos feitos no final do mês, principalmente por empresas do setor imobiliário. Ainda assim, ele reconheceu que os fluxos no ano têm vindo abaixo do que o BC esperava.

No semestre, o investimento estrangeiro somou 12,058 bilhões de dólares, abaixo do acumulado no mesmo período do ano passado, de 12,665 bilhões de dólares.

“Nossa expectativa era um pouco melhor, mas estamos mantendo nossa estimativa de 38 bilhões de dólares para o ano pelas sondagens que fazemos junto a empresas”, acrescentou.

Os investimentos em carteira, incluindo ações e renda fixa, foram de 3,140 bilhões de dólares em junho. O financiamento do déficit em conta corrente no mês foi garantido por outros investimentos, como créditos comerciais e empréstimos.

Para Lopes, esse descasamento entre déficit em conta corrente e investimentos diretos e em carteira foi pontual, e a expectativa é de que no ano o fluxo de investimentos seja suficiente para financiar o balanço de pagamentos.