Um dia após o Banco Central (BC) anunciar que o déficit em conta corrente do Brasil, no mês passado, foi o pior desde 1947, o ministro da Fazenda, Guido Mantega, garantiu que isso não representa uma ameaça ao crescimento do país, mas sim o resultado desse mesmo crescimento. Para ele, a situação deve se reverter a partir de 2012, e o déficit já estava previsto devido ao sucesso do Brasil no enfrentamento da crise.
Mantega garantiu que não há risco de aumento da vulnerabilidade externa, que, segundo ele, é a “menor possível”.
“Estava previsto e não tem nenhuma novidade. A causa desse déficit é o sucesso do Brasil, que sofreu menos com a crise e conseguiu superá-la. Como cresceu mais, estamos aumentando mais nossas importações”, afirmou o ministro.
Na avaliação do ministro, o rombo nas transações correntes só seria menor se o Brasil estivesse crescendo menos. “As exportações estão crescendo bem, cerca de 27% ao ano, que é um bom crescimento, e deve voltar ao patamar de 2008. Nosso mercado cresce, enquanto os outros não crescem. Só aí perdemos US$ 10 bilhões a US$ 12 bilhões de saldo comercial com esse mercados”, disse ele.
Pelos cálculos do ministro, o déficit neste ano deve fechar em US$ 45 bilhões ou US$ 48 bilhões. O valor representa 2,33% do Produto Interno Bruto (PIB, soma de todos os bens e serviços produzidos no país) com o saldo comercial previsto para US$ 15 bilhões. A estimativa é superior a que a foi feita pelo Banco Central, de US$ 13 bilhões.
O ministro afirmou ainda que é a elevação da renda dos brasileiros que está levando a população a viajar mais. “Você vai viajar e só encontra brasileiro. Em Buenos Aires, em Nova York. São brasileiros que tiveram a renda aumentada e provocarão um déficit nas contas externas de US$ 7 bilhões a US$ 8 bilhões”, disse Mantega. Ele ressaltou, porém, que o ideal não é impedir que os brasileiros viajem, mas que os turistas estrangeiros visitem mais o Brasil. Como, segundo ele, o “cinto está apertado”, os estrangeiros estão viajando menos.
De acordo com Mantega, outro motivo para o déficit é a dificuldade das empresas em fechar os balanços no exterior e, como o real está mais valorizado, contribui para que essas companhias façam maiores remessas de lucros e dividendos para suas matrizes, cerca de US$ 15 bilhões contra US$ 10,1 bilhões do ano passado.
Outro fator foi o fortalecimento das empresas brasileiras no exterior, com o aumento dos investimentos externos em US$ 8,6 bilhões só até junho.
Para reforçar que o Brasil não tem problema com as contas externas, o ministro apresentou um quadro que mostra que o país tem, em relação ao PIB, uma baixa dívida externa líquida (dívida menos as reservas internacionais), um déficit em transações correntes e reservas internacionais consideradas o melhor resultado de todos os tempos. Pelo quadro, o déficit em transações correntes deve ficar em 2,1%, a dívida externa, negativa em 3% e as reservas, em 15,4%.
“No passado, você tinha o déficit em transações correntes igual ou maior do que esse, mas, em compensação, você tinha um dívida externa muito maior e menos reservas. Então, as condições das contas externas são absolutamente sólidas”, afirmou.