O Irã acumulou urânio de baixo enriquecimento suficiente para produzir uma ou duas bombas atômicas, mas não valeria a pena para o país violar as regras de não-proliferação por tão pouco, segundo um ex-funcionário da ONU envolvido com a questão.
Em raras declarações públicas sobre o programa nuclear iraniano, Olli Heinonen, ex-inspetor-chefe da Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA, um órgão da ONU), disse ao diário francês Le Monde que as reservas de urânio do Irã ainda representam uma “ameaça”.
Até deixar o cargo este mês, por razões pessoais, Heinonen era subdiretor-geral da AIEA e chefe do departamento de salvaguardas, que verifica se os programas nucleares nacionais não estão sendo ilegalmente usado para fins militares.
O Ocidente acusa o Irã de estar tentando desenvolver armas atômicas, o que o governo do país nega, alegando que seu objetivo é apenas gerar energia para fins civis. Como membro da AIEA, o finlandês Heinonen passou anos investigando essas suspeitas.
Na entrevista, publicada nesta quinta-feira, ele disse que o Irã possui hoje 3 toneladas de urânio baixamente enriquecido, material que pode ser usado para alimentar usinas nucleares. Para ser usado em armas nucleares, o material teria de ser enriquecido até um grau muito maior de pureza.
“Na teoria, é suficiente para fazer uma ou duas armas nucleares. Mas chegar a esse passo final, quando se tem material apenas para duas armas, não faz sentido”, afirmou Heinon na entrevista, feita pouco antes de ele deixar o cargo. “Mas isso constitui (…) uma ameaça”, acrescentou.
De acordo com o ex-inspetor, os EUA estimam que o Irã precisaria de um ano para enriquecer o material, prazo que ele disse ser factível. Em abril, membros do Pentágono declararam ao Congresso norte-americano que o Irã poderia em um ano ter suficiente urânio enriquecido para uma arma, mas que provavelmente necessitaria de três a cinco anos para montá-la, testá-la e instalá-la.
Por iniciativa das potências ocidentais, o Conselho de Segurança da ONU já impôs quatro rodadas de sanções ao programa nuclear do Irã. O país se recusa a abandonar suas atividades de enriquecimento, mas afirma estar disposto a negociações.