Técnicos do Brasil e da Argentina vão se reunir no próximo dia 23 para uma nova rodada de avaliação do programa nuclear conjunto iniciado em 1980. O encontro, que terminará no dia 27, na capital argentina, foi convocado pelos presidentes Luiz Inácio Lula da Silva e Cristina Kirchner no último dia 3, após reunião bilateral ocorrida na cidade de San Juan, que também sediou a 39ª Cúpula do Mercosul.

A rodada de avaliação reunirá técnicos do Comitê Permanente de Política Nuclear (CPPN) e da Comissão Binacional de Energia Nuclear (Coben), órgãos coordenados pela Agência Brasileiro-Argentina de Contabilidade e Controle de Materiais Nucleares (Abacc). Um dos assuntos que poderão ser discutidos no encontro de Buenos Aires é o desenho conjunto de um reator nuclear de pesquisas.

Durante entrevista coletiva em San Juan, no dia 2 de agosto, o ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim, afirmou que em questões nucleares o desenho de um reator, que envolve sofisticada engenharia, é um detalhe importante. Não está prevista a construção conjunta do reator. Depois de elaborado o desenho, com a participação de especialistas brasileiros e argentinos, cada país fabricará o seu.

O programa nuclear Brasil-Argentina foi iniciado em 1980, quando os dois países assinaram acordo de cooperação para o desenvolvimento e a aplicação de usos pacíficos da energia nuclear. Somente 11 anos depois, em 1991, a parceria entrou em nova fase com a criação da Agência Brasileiro-Argentina de Contabilidade e Controle de Materiais Nucleares. No mesmo ano, o Brasil e a Argentina assinaram acordo com a Agência Internacional de Energia Atômica (Aiea), garantindo a utilização pacífica de seu programa nuclear conjunto.

O ministro Celso Amorim reconhece que, desde então, o programa avançou pouco no que se refere às ações concretas. Na entrevista coletiva em San Juan, Amorim afirmou que, nos últimos anos, o Brasil e a Argentina mantiveram “certo zelo com relação às tecnologias desenvolvidas de um lado e de outro”. “No caso do Brasil, é mais em relação ao enriquecimento do urânio e, no caso da Argentina, esse zelo é com a tecnologia de reatores nucleares”, disse. Segundo o chanceler, a possibilidade de os dois países desenharem em conjunto um reator nuclear significa um avanço importante na parceria nuclear.

Na reunião bilateral em San Juan, os presidentes Lula e Cristina Kirchner assinaram declaração conjunta reafirmando que o Brasil e a Argentina continuarão trabalhando na área nuclear em coordenação com os foros internacionais do setor, sempre alinhados no uso pacífico de materiais atômico.

Na declaração, os presidentes lembraram a importância de medidas concretas e urgentes que permitam a eliminação de arsenais atômicos. Lula e Cristina Kirchner destacaram ainda o compromisso permanente com o desarmamento e a não proliferação de armas nucleares, lembrando que todas as nações têm o direito ao uso e ao desenvolvimento da energia nuclear para fins exclusivamente pacíficos.