A falta de profissionais capacitados e de planejamento dos governos estaduais e municipais, que não instalam centros especializados, impedem que o tratamento de lipoatrofia facial seja estendido a todos os pacientes com aids na rede pública de saúde do país, disse hoje (3) à Agência Brasil o dermatologista Márcio Soares Serra, consultor do Ministério da Saúde para esse tipo de distúrbio, que provoca perda de gordura na face.
Há dois anos, Márcio Serra vem treinando médicos do Sistema Único de Saúde (SUS) para fazer o preenchimento facial de forma gratuita, como prevê a Portaria 2.582, do Ministério da Saúde de 2004, que incluiu cirurgias reparadoras para pacientes com aids na tabela do SUS.
O grande problema, segundo o dermatologista, é que o preenchimento é feito com um material permanente “e os profissionais, nem todos, têm habilidade para fazer isso, tornando o procedimento mais lento e o aprendizado mais demorado”. A substância empregada é o metacrilato, pó acrílico que é colocado no gel para que possa ser injetado subcutaneamente. Ele repõe o volume de gordura perdido na face pelos pacientes com aids.
A falta de centros especializados também é outro problema que limita o acesso dos pacientes ao tratamento. No Rio de Janeiro, apenas a Fundação Instituto Oswaldo Cruz (Fiocruz) e o Hospital Geral de Bonsucesso têm esse serviço. São Paulo é o estado com o maior número de municípios com unidades de saúde capacitadas para tal. Em Fortaleza (CE) e Cascavel (PR), também existem centros com essa finalidade. “Então, aos poucos, a gente está tendo isso pelo Brasil”, disse Serra.
O médico também destacou a importância do tratamento para a recuperação da autoestima do paciente com aids. “O que todo paciente fala é que melhora a autoestima. Já tive dois pacientes que conseguiram emprego depois que fizeram o preenchimento facial. Porque a pessoa fica com a autoestima baixa e depois, quando volta a ter uma fisionomia normal, ela se sente confiante para voltar à vida”.
De maneira geral, na maior parte dos pacientes e dependendo do grau de atrofia, o preenchimento facial é feito em duas ou três sessões. Na rede privada, “dependendo do profissional”, o custo do tratamento oscila entre R$ 1.400 e R$ 3 mil. A falta de material disponibilizado para a rede pública é outro problema que dificulta a disseminação do tratamento em todo o Brasil.
O assunto vai ser tema de palestra de Márcio Serra no 65º Congresso da Sociedade Brasileira de Dermatologia, que começa amanhã (4), no Rio de Janeiro.