No filme “Matrix”, Neo (Keanu Reeves), tem de decidir entre duas pílulas: a azul e a vermelha. Tomando a azul, Neo voltará a uma vida “ilusória”; se optar pela pílula vermelha, conhecerá a fundo o que se pode chamar de realidade. Todo mundo sabe que ele fica com a vermelhinha, mas não é bem o que está acontecendo do lado de fora da telona, onde cada vez mais pessoas ficam “abduzidas” pelo mundo “irreal” Elas são chamadas de netviciados. Segundo artigo da pesquisadora norte-americana Diane Wieland, publicado na revista “Perspectives in Psychiatric Care”, cerca de 10% do total de internautas do planeta são viciados na coisa.

Quer mais? Um recente estudo realizado nos Estados Unidos, por uma grande rede de lojas de eletrônicos, Retrevo, descobriu que 48% dos entrevistados atualizam o Facebook ou o Twitter assim que acordam ou antes de dormirem.
Meu reino por uma conexãozinha
O bicho está pegando aqui no Brasil também. “Unknown Blogueira”, twitteira de mão cheia, que não revela o seu nome e tem menos de 25 anos, diz que não tem amizades reais nem namorado. “Eu realmente detesto o real, pelo menos o meu. As pessoas que eu conheço são desinteressadas, só tem gente lerda que não sabe um fio do que as do virtual sabem. Se eu pudesse usaria o botão de excluir/bloquear aqui fora. Essa é uma parte negativa da internet. A gente acostuma a tratar as pessoas como um objeto que, quando você se cansa, simplesmente descarta”, diz.

Alexandre Kavinsky, 38 anos, sócio da I-Cherry (Search Marketing) afirma que passa dez horas por dia conectado. “Mas considere que trabalho com isso, senão passaria só umas nove horas (risos). Casado e com filhos, Alexandre diz que a salvação contra o divórcio é a internet no celular. “Sempre dou um jeitinho de estar com a família, mas sem deixar de espiar a rede”, confessa.

A psicóloga Silvia Pedrosa recomenda cautela no uso da ferramenta. “Vício é ato, um hábito, que na necessidade de repetição forma uma dependência físico-psicológica. E tudo o que é em excesso tende a causar sofrimento, pois gera um desequilíbrio. Fazer parte das redes de relacionamento é saudável na medida em que as pessoas saibam lidar com elas, percebendo que não podem substituir as relações e o lazer do dia a dia”. Para Silvia, se o computador está proporcionando mais prazer do que o convívio com as pessoas é preciso refletir se não vale a pena rever a vida.

Fique de olho!
Dorit Wallach Verea, psicóloga, mestre em psicologia clínica pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP) e especialista em dependência química pelo Instituto Sedes Sapientiae, afirma que a busca pelo prazer nos move, e tendemos a repetir ações agradáveis. Às vezes é nesse prazer que encontramos uma forma de fugir das dificuldades. “O problema é quando o gostar muito se transforma em dependência, e o prazer se transforma em dor.”

Definimos compulsão pela internet quando a pessoa:
Passa muito tempo no computador, inclusive perdendo muitas horas de sono.

Negligencia suas responsabilidades e necessidades familiares, pessoais e profissionais de forma reiterada.
Apresenta prejuízos consequentes do uso patológico da internet.

Sente grande angústia ou ansiedade na ausência ou na impossibilidade de estar no computador.

Nega, mente ou manipula as pessoas para não ser criticada e continuar mais tempo na internet.

Quatro dicas que podem ajudar a ter mais controle
Seja consciente. A falta de crítica e grande desconsideração quanto aos fatores de risco nos deixam indefesos quanto aos perigos que a internet oferece à saúde integral, ou seja, saúde física, emocional, familiar, social e profissional.

Não espere ter problemas de saúde para tomar atitudes. A visão imediatista e a falta de reforço positivo de curto prazo fazem com que a necessidade em manter comportamentos que favoreçam a saúde seja ignorada.

Fique alerta! O estilo de vida é adquirido dentro do ambiente familiar. Pais ou irmãos mais velhos fumantes, obesos, alcoólatras entre outros, influenciam diretamente na aquisição de comportamentos de risco. O mesmo para a internet.

Cuidado: a falta de supervisão dos pais e mensagens inconsistentes são grandes influenciadoras de comportamentos compulsivos.
Quem ajuda:

O Programa de Orientação e Atendimento a Dependentes (Proad), do Departamento de Psiquiatria da Universidade Federal de São Paulo, usa psicoterapia para tratar os viciados em internet. Tel. (11) 5579-1543

O Núcleo de Pesquisas em Psicologia e Informática da PUC atende diariamente os pacientes por e-mail e tem um núcleo que visa estudar o comportamento dos netviciados. Contato: nppi@pucsp.br