A tela do computador piscou diferente, e os técnicos do Instituto Adolfo Lutz, ligado à Secretaria de Estado da Saúde, foram os primeiros a saber, em 8 de maio de 2009, que o primeiro caso de gripe A H1N1 do Estado de São Paulo estava confirmado.
Depois daquela data, virou rotina a chegada de amostras de secreções colhidas pacientes suspeitos, de hospitais paulistas e de outros sete estados e o Distrito Federal, à recepção do número 351 da avenida Dr. Arnaldo, zona oeste da capital.
O movimento na porta do maior laboratório de saúde pública do país já voltou à normalidade. Mas o Adolfo Lutz, que completa 70 anos de existência nesta terça-feira, 26 de outubro, tem muitas outras doenças para cuidar: dengue, febre amarela, tuberculose, rotavírus, febre maculosa, hepatites, infecções bacterianas, coqueluche, hantavirose, meningite, HIV, botulismo. Tudo passa por lá. São mais de um milhão de exames por ano, realizados para monitorar e controlar surtos e epidemias, no Estado de São Paulo e no Brasil.
Pouco mais de um mês após o primeiro caso da nova gripe, o Adolfo Lutz foi o primeiro e único laboratório da América Latina a anunciar o isolamento e o seqüenciamento do vírus pandêmico. O Influenza A/São Paulo/H1N1, como foi denominado, apresentou pequenas modificações genéticas em relação ao primeiro vírus isolado, na Califórnia (EUA). Um feito e tanto, que repercutiu na imprensa mundial.
Esta não foi a primeira vez que a equipe do Adolfo Lutz surpreendeu. O Instituto já foi responsável, nos últimos anos, pela descoberta de novos tipos de vírus da rubéola, febre amarela e caxumba em circulação no Estado, contribuindo com novas informações para o programa de vacinação em massa da Secretaria.
Desde 2007, o Lutz desenvolveu testes rápidos (PCR Real Time) diagnósticos de caxumba, meningites e coqueluche, além de técnicas para genotipagem (identificação do tipo de vírus) de dengue, hantavírus, sarampo, hepatite B, hepatite C, Influenza, enterovírus e rubéola e técnicas avançadas para detectar marcadores moleculares de resistência para tuberculose, enterobactérias e fungos.
Mas nem só de identificar doenças vive o Adolfo Lutz. O instituto também desenvolve extensa produção de pesquisas científicas e participa ativamente do trabalho de prevenção e vigilância sanitária desenvolvido pela Secretaria, com programas específicos para análise dos mais diversos tipos de produtos adquiridos pelos consumidores: água, alimentos industrializados, medicamentos, cosméticos e produtos de limpeza (saneantes), entre outros.
Foi com base nas análises do Adolfo Lutz que a Secretaria proibiu, no final de 2007, a venda e a distribuição do anticoncepcional Contracep, do laboratório EMS Sigma-Pharma, constatando problemas de solubilidade que poderiam comprometer a absorção do medicamento pelo organismo das mulheres que desejam evitar a gravidez. Além disso, todos os alimentos interditados pela Vigilância Sanitária Estadual, como lotes de palmitos e outros produtos, passam por exames específicos nos laboratórios do Adolfo Lutz.
Com orçamento de R$ 12,5 milhões anuais, o Instituto Adolfo Lutz conta hoje com cerca de 900 profissionais, entre os quais 144 técnicos de laboratórios, 263 pesquisadores e 61 biologistas. Além do instituto central, outros 11 laboratórios regionais realizam exames de forma descentralizadas no litoral e interior do Estado.
O instituto é responsável, entre outros programas, pela coordenação do programa de qualidade para diagnóstico de HIV em laboratórios públicos e privados, fornecendo padrões e controles, e do grupo de fungos na rede de monitoramento de resistência microbiana da Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária). Também participa de programas internacionais de controle de qualidade laboratorial desenvolvidos em países como Dinamarca, Bélgica, Espanha, Portugal e Peru, entre outros.
Em fase de reforma e ampliação, o Adolfo Lutz comprou equipamentos de última geração para aprimorar a qualidade de seus exames, como centrífugas refrigeradas, cromatógrafo líquido de alta eficiência e um microscópio eletrônico capaz de ampliar imagens em até um milhão de vezes, podendo inclusive mostrar estruturas internas de vírus, reduzindo o tempo de análises de exames.
“O Instituto Adolfo Lutz é um orgulho da saúde pública paulistana. Desenvolve um trabalho diversificado que ajuda, ao mesmo tempo, a controlar epidemias e prevenir doenças, respaldando as ações de vigilância sanitária e epidemiológica em todo o Brasil e contribuindo para a produção científica internacional”, diz o secretário de Estado da Saúde, Nilson Ferraz Paschoa.
O Adolfo Lutz é fruto da união entre o Instituto Bacteriológico e o Laboratório de Análises Químicas e Bromatológicas. O Instituto Bacteriológico, inaugurado em 1892, teve como primeiro diretor foi o médico Adolpho Lutz, já então renomado cientista e doutor em medicina pela Universidade de Berna. Desde os primeiros anos o trabalho da instituição teve grande impacto nas condições de saúde da população brasileira, ajudando a controlar a difusão da febre amarela em quase todo o Estado, debelando uma epidemia de febre bubônica em Santos e combatendo o cólera e a febre tifóide que atingiam a capital. Já o Laboratório de Análises Químicas e Bromatológicas atuava no controle de fraudes e contaminações de alimentos.
A solenidade de comemoração aos 70 anos do Instituto Adolfo Lutz acontece nesta terça-feira, a partir das 8h30, no anfiteatro do Edifício Central da instituição, que fica na avenida Doutor Arnaldo, 355, 2º andar, Cerqueira César, zona oeste de São Paulo.