O presidente do Equador, Rafael Correa, afirmou ontem (1º) à noite que os policiais rebelados tentaram promover uma guerra civil. Correa disse que um dos seus seguranças foi morto ao tentar defendê-lo durante os protestos de policiais rebelados. “Havia uma tentativa de desestabilização e de se iniciar uma guerra civil”, disse o presidente, na reunião em Quito com os chanceleres da Unasul.
As informações são da agência BBC Brasil. “Quero que fique claro que não foi uma reivindicação salarial”, disse o equatoriano. “Foi uma tentativa de conspiração, na qual se criou descontentamento na força pública para tentar gerar uma guerra civil.”
Segundo Correa, essa tentativa fracassou porque as Forças Armadas não se rebelaram. Ele disse ainda que houve ações coordenadas como a tomada do aeroporto da capital, descontrole proposital do sistema de semáforos e saques para gerar caos na cidade.
Foi a primeira vez desde a rebelião que Correa deu detalhes da crise. Criticado por ter ido pessoalmente negociar com os policiais que protestavam, Correa disse que sua intenção era explicar que a polêmica lei de servidores públicos não prejudicava os funcionários. “Ao contrário, os beneficiava”, disse.
“Me dei conta de que se tratava de outra coisa porque, em seguida, as palavras eram fora o comunismo, fora Chávez, fora governo não era uma reivindicação gremial”, disse o presidente equatoriano que lidera a chamada “revolução cidadã”.
No momento do resgate, um policial da guarda pessoal do presidente, que corria ao lado do carro que transportava Correa, foi morto com um tiro no peito. De acordo com Correa, seu carro foi alvejado por pelo menos cinco tiros.
Correa disse que havia franco-atiradores nos tetos dos prédios que cercavam o hospital militar.
Durante o tiroteio que durou quase 40 minutos, quatro pessoas foram mortas e 88 feridas. Antes, porém, autoridades equatorianas mencionaram 193 feridos. “Um estudante de 24 anos foi morto com um tiro na cabeça”, disse ele.
Correa voltou a afirmar que vai depurar a polícia, para evitar novas crises. Ontem Patrício Franco foi nomeado novo chefe da polícia, depois da renúncia de Freddy Martínez, que deixou o cargo na manhã de sexta-feira.
O presidente equatoriano narrou a crise da véspera aos chanceleres da Unasul, que viajaram a Quito para reiterar o apoio do bloco ao sistema democrático do país.
No encontro, ficou acordado que até a próxima reunião do bloco, prevista para 24 de novembro, o países definirão os mecanismos para aplicar as sanções que foram determinadas pelos chefes de Estado da Unasul, em Buenos Aires, na última quinta-feira (30), aos países cujos governos derivem de golpes de Estado.
A medida deverá se converter na Cláusula Democrática do bloco, que estabelece sanções políticas e bloqueios econômicos aos países liderados por governos de fato.
“Temos que vetar as pessoas que tentaram assassinar o presidente”, afirmou à BBC Brasil o chanceler equatoriano Ricardo Patino. “Por isso é tão importante que Honduras não fique na impunidade, assim como isso aqui não ficará na impunidade”, acrescentou.
A punição aos policiais rebeldes é assunto controverso entre um grupo de parlamentares. Por meio de um abaixo assinado, deputados da Assembleia Nacional pedem anistia aos policiais, militares e demais funcionários públicos “que se mobilizaram” na quinta-feira.
A decisão de punir os responsáveis pela rebelião policial é sustentada, pelo secretário geral da Organização dos Estados Americanos (OEA), José Miguel Insulza. “Estou de acordo que os fatos cometidos não podem ficar impunes”, afirmou Insulza, logo depois de se reunir com Correa, no palácio de governo. “Não se pode simplesmente virar a página sem investigar a fundo o que aconteceu, que tentaram terminar com a democracia que esse país lutou tanto para conquistar”, disse.
Assim como os líderes da Unasul, Insulza disse que o sistema democrático equatoriano “saiu fortalecido” por ter vencido “à tentativa de golpe de Estado”.