A morte do ex-presidente argentino Néstor Kirchner deixou em aberto o futuro político da Argentina e também afetou diretamente a estrutura da União de Nações Sul-Americanas (Unasul), entidade que reúne os 12 países da região.
Criada em 2004 e oficializada durante reunião em Brasília, em 2008, a Unasul permaneceu durante esses anos sob a presidência temporária do Equador, aguardando a definição do seu primeiro secretário-geral.
De acordo com o documento de criação da entidade, o secretário-geral seria o executivo que tomaria as primeiras providências para estruturar a Unasul, incluindo nesse trabalho um local para sua sede definitiva. No dia 4 de maio deste ano, Néstor Kirchner foi eleito para o cargo, por unanimidade, durante encontro em Buenos Aires que reuniu os presidentes de todos os países que integram a Unasul.
Na época, antes de declarar seu voto, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse que a integração pretendida pela Unasul não se limita à teoria. “Acho que descobrimos que somente nossa organização pode garantir um novo rumo para a América do Sul e para a América Latina”, destacou.
Segundo Lula, a eleição de Kirchner para a Secretaria-Geral da Unasul seria mais uma etapa para a consolidação do grupo. “O Kirchner tem experiência, conhece o continente e também as dificuldades políticas e ideológicas que existem aqui. Acho que ele está 100% apto a ser um extraordinário secretário-geral da Unasul”, destacou na ocasião.
Eleito para dirigir a entidade, Kirchner assumiu a secretaria-geral desacreditado por seus adversários políticos, que o acusaram de acumular cargos, mas trabalhar pouco em cada um deles. Quando assumiu, Kirchner já dirigia o Partido Justicialista e era deputado federal.
No dia 30 de setembro passado, Kirchner teve a primeira oportunidade de mostrar sua atuação na secretaria-geral da Unasul. Naquele dia, um grupo de militares e policiais civis do Equador, insatisfeitos com um decreto do governo do presidente Rafael Correa que reduzia benefícios salariais, iniciaram uma rebelião que gerou tumulto, apreensão regional e acusações de tentativa de golpe de Estado.
De forma ágil e contrariando as acusações de seus adversários, Kirchner assumiu por completo a figura de secretário-geral da Unasul e mobilizou os presidentes e ministros das Relações Exteriores da região, além de divulgar nota manifestando “absoluta solidariedade” do bloco regional ao presidente Correa, “após tentativa de sublevação da ordem constitucional do Equador”. A nota afirmava que a América do Sul não pode tolerar, sob nenhum pretexto, “que os governos eleitos democraticamente sejam pressionados e ameaçados por setores que não querem perder privilégios”.
Em seguida, convocou os chanceleres do bloco para reunião em Buenos Aires a fim de respaldar o apoio a Rafael Correa e para estudar medidas concretas que impeçam movimentos antidemocráticos na região. O resultado foi que a Unasul incluiu em seus documentos oficiais a possibilidade de bloqueio econômico a qualquer de seus integrantes que sinalizem desvio da ordem constitucional.
Com a morte de Kirchner, a Unasul volta ao ponto de partida e precisa eleger um novo secretário-geral. Por enquanto, a entidade permanece sob o comando temporário de Rafael Correa, presidente do Equador. Dependerão dele os próximos passos referentes à sucessão no efetivo comando da Unasul.