Vale a pena manter aquele dinheiro aplicado na poupança? Desde que o governo anunciou modificações na caderneta, essa se tornou a pergunta da vez. As mudanças ainda nem entraram em vigor, mas já deixaram um batalhão de dúvidas sobre qual o melhor destino para os investimentos.
Se você tem até R$ 50 mil na poupança, relaxe, nada muda pra você. Mas quem poupou mais do que isso vai precisar de muita paciência. Primeiro, porque nada mudou: as novas regras vão ter que ser aprovadas pelo Congresso. E, segundo: alguns detalhes sobre as alterações nem foram divulgados. O certo é que o governo federal pretende cobrar Imposto de Renda de aplicações da poupança com saldo superior a R$ 50 mil a partir do ano que vem.
Mas por que tanta polêmica sobre a boa e velha caderneta de poupança? Tudo começa com a taxa básica de juros da economia, a famosa Selic. Ela caiu 3,5 pontos percentuais desde o fim do ano passado. Em abril, a taxa recuou para 10,25% ao ano, o menor patamar da história. Até aí tudo bem e todo mundo agradece a queda nos juros. Só que, com isso, os rendimentos da poupança, que são juros mínimos de 6% ao ano, mais a TR (Taxa Referencial), ficaram bem mais atraentes.
A caderneta continua a render o mesmo, mas muitos fundos de renda fixa, mais ligados à taxa de juros, deixaram de ser tão lucrativos. Como os fundos de investimento cobram taxas de administração, a matemática fica ainda mais desfavorável para eles. Na prática, a poupança começou a levar vantagem na guerra pelos investidores. E quanto mais a taxa de juros cair, mais a balança tende a ficar favorável para a caderneta.
“A cobrança de Imposto de Renda foi uma maneira encontrada pelo governo para reduzir os rendimentos da caderneta sem mexer diretamente na alíquota”
“Quem tem dinheiro aplicado, pelo menos em princípio, deve ficar exatamente como está”, aconselha Miguel de Oliveira, vice-presidente da Anefac (Associação Nacional dos Executivos de Finanças, Administração e Contabilidade).
Segundo ele, isso só não vale se o dinheiro estiver em um fundo com taxa de administração igual ou maior que 1,5%. “Nesse caso, deixa de ser vantagem manter a aplicação.”
PROBLEMA – Agora, por que isso é um problema para o governo? Os fundos financiam a dívida do governo ao investirem em títulos públicos. Isso é o mesmo que emprestar dinheiro ao governo. Se a poupança fica mais atrativa, o dinheiro migra para ela e podem faltar recursos para financiar a dívida pública.
Outra questão é que, por lei, 65% dos depósitos da poupança têm de ser usados pelos bancos para financiar moradias. O cenário seria o de muita oferta de financiamento para os imóveis e pouco dinheiro para os outros financiamentos. Com menos recursos disponíveis, o que acontece? Os demais financiamentos ficam mais caros.
Isso mesmo: mais juros no cheque especial, nos empréstimos pessoais e também na prestação do carro e da geladeira.
A cobrança de Imposto de Renda foi uma maneira encontrada pelo governo para reduzir os rendimentos da caderneta sem mexer diretamente na alíquota. A poupança até então estava isenta de tributação. Mas o presidente Lula avaliou que reduzir a alíquota para menos de 6% era uma medida bem mais impopular.
O plano, por enquanto, é cobrar IR de quem tem saldo maior que R$ 50 mil. Mas o ministro da Fazenda, Guido Mantega, já sinalizou que, à medida que a taxa de juros for sendo reduzida, uma parcela maior dos poupadores deve ser tributada. De qualquer forma, a conversa é sobre a declaração que você vai entregar à Receita em 2011.
OPÇÕES – Antes de pensar em abandonar o barco e trocar de aplicação, o mais prudente é esperar para ver se tudo que foi anunciado vai mesmo virar lei. Quando as regras estiverem mais claras, pode ser mais lucrativo negociar com o banco a redução da taxa de administração em determinado fundo de investimentos do que ficar na poupança.
Também vale lembrar que o mundo das aplicações não se restringe aos fundos de renda fixa e à caderneta de poupança. Ações e derivativos são opções que devem ser mais bem exploradas. O risco é maior, claro, mas os ganhos, no longo prazo, são bem mais sedutores. É só deixar de lado o medo e aprender.
Fonte: Bolsa de Mulher.