As famílias com rendimentos mais elevados tendem a consumir mais gorduras e menos carboidratos. A contribuição mínima de 55% de carboidratos para as calorias totais, conforme recomendação da Organização Mundial da Saúde (OMS), não é cumprida para aquelas que ganham a partir de 15 salários mínimos, cerca de R$ 7,6 mil. Além disso, cerca de 30% dos carboidratos da dieta nessa classe de renda correspondem a açúcares livres, que são açúcar de mesa, rapadura, mel e açúcares adicionados e alimentos processados.
A constatação é do suplemento Avaliação Nutricional da Disponibilidade Domiciliar de Alimentos no Brasil, da Pesquisa de Orçamentos Familiares (POF) 2008-2009. O levantamento divulgado hoje (16) pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) avalia a qualidade nutricional dos produtos disponíveis para alimentação no domicílio, em termos de participação no consumo de calorias, carboidratos, proteínas e gorduras.
No caso das gorduras, o limite máximo de 30% das calorias totais é ultrapassado a partir da classe com rendimento mensal superior a seis salários mínimos (cerca de R$ 3 mil).
O estudo também aponta que o teor de proteínas na dieta tende a aumentar com os rendimentos, mas permanece dentro do parâmetro entre 10% e 15%, recomendado pela OMS em todas as classes. A proporção de calorias proteicas de origem animal, que têm maior valor biológico, tende também a aumentar com a renda, mas não foge à recomendação de representar pelo menos 50% de todas as proteínas.
O documento do IBGE também traz uma lista com os produtos cuja participação no consumo aumenta na mesma proporção em que sobem os rendimentos. Entre eles estão o leite e seus derivados; as frutas, as verduras e os legumes; a gordura animal; as bebidas alcoólicas e as refeições prontas.
Por outro lado, os alimentos que são menos consumidos na medida em que os rendimentos sobem são os feijões e outras leguminosas; cereais e derivados, principalmente o arroz; além de raízes e tubérculos, especialmente a farinha de mandioca.
O levantamento também aponta que há redução no consumo do açúcar de mesa e aumento no de refrigerantes conforme a renda aumenta; além de elevação no consumo da carne bovina e de embutidos na medida em que se ganha mais; e redução ou estabilidade para os outros tipos de carne.
A empregada doméstica Maria do Socorro Silva diz que não é sempre que pode comprar carne bovina. Ela conta que só leva o produto para casa quando o marido consegue trabalho.
“Ele é auxiliar de obra e nem sempre está trabalhando. Quando fica sem receber, a gente vai comendo frango, ovo, macarrão. Mas quando entra um pouco a mais, passo logo no mercadinho e compro uma peça de chã, que é a minha preferida”, afirmou.
Ainda de acordo com o estudo, o brasileiro está comendo cada vez mais fora de casa. Entre os anos de 2003 e 2009, a disponibilidade diária per capita média de alimentos para consumo no domicílio caiu de 1.791 calorias para 1.610 e os gastos com alimentação na rua subiram de 24,1% do total das despesas com alimentação para 31,1% nesse mesmo período.