Quatro pessoas já morreram em enfrentamentos após a eleição

O presidente da Costa do Marfim, Laurent Gbagbo, está sob pressão da comunidade internacional para aceitar a derrota para o oposicionista Alassane Ouattara na eleição presidencial do dia 28 de novembro após o Conselho Constitucional do país alterar o resultado já divulgado para declarar o atual mandatário como vencedor.

Vários líderes internacionais manifestaram seu apoio a Ouattara. Na quinta-feira, a Comissão Eleitoral Independente (CEI) declarou o oposicionista vencedor do segundo turno presidencial com 54,1% dos votos válidos, contra 45,9% de Gbagbo.

Mas após o atual presidente e seus simpatizantes terem afirmado que houve fraude na votação, o Conselho Constitucional alterou o resultado e anunciou que Gbagbo foi o vencedor, com 51% dos votos.

Estados Unidos, ONU, França e o bloco de países do oeste africano Ecowas pediram a Gbagbo que aceite a derrota.

O atual presidente está no cargo desde 2000. Seu atual mandato expirou em 2005, mas a eleição presidencial vinha sendo adiada desde então sob o argumento de que não havia segurança para sua realização.

Segundo a mídia estatal do país, Gbagbo tomaria posse para o novo mandato de cinco anos ainda neste sábado.

A eleição tinha como objetivo reunificar o país após a guerra civil iniciada em 2002, que provocou o colapso econômico da Costa do Marfim, maior produtor mundial de cacau e até então uma das nações mais prósperas da região.

O primeiro-ministro marfinense, Guillaume Soro, advertiu que a alteração dos resultados eleitorais ameaça as tentativas de estabilizar e reunificar o país.

‘Credibilidade’

O presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, rejeitou a decisão do Conselho Constitucional.

“A Comissão Eleitoral Independente, observadores credenciados e confiáveis, e a Organização das Nações Unidas confirmaram este resultado e atestaram sua credibilidade”, afirmou.

Ele congratulou Ouattara e disse que a comunidade internacional fará “aqueles que agiram para frustrar o processo democrático e o desejo do eleitorado pagarem por suas ações”.

O presidente da França, Nicolas Sarkozy, pediu a Gbagbo que “respeite o desejo das pessoas e se abstenha de ações que possam provocar violência”. A Costa do Marfim é uma ex-colônia francesa.

O secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, pediu a Gbagbo que “faça sua parte para o bem do país e coopere com uma transição política suave”.

O presidente do bloco Ecowas, o presidente da Nigéria, Goodluck Jonathan, disse que todos os partidos devem “respeitar e implementar totalmente o veredicto do povo marfinense conforme declarado pela Comissão Eleitoral Independente”.

O chefe da missão da ONU na Costa do Marfim também declarou que considera Ouattara o vencedor da eleição, enquanto a União Africana se disse “profundamente preocupada” com os acontecimentos no país.

Ouattara se disse vencedor da votação. “Eu sou o presidente eleito da Costa do Marfim. O Conselho Constitucional abusou sua autoridade, o mundo inteiro sabe disso, e lamento pela imagem do meu país”, afirmou.

Cenas dramáticas

O país tem observado cenas dramáticas sobre o resultado da eleição desde a votação de domingo.

Na terça-feira, um representante de Ggagbo na CEI rasgou a primeira leva de resultados antes que um porta-voz da comissão pudesse anunciá-los.

Na quinta-feira, o presidente da CEI, Youssouf Bakayok, fez o anúncio dos resultados sob proteção armada em um hotel, em vez da sede da comissão, anunciando Ouattara como vencedor.

Pouco depois, o presidente do Conselho Constitucional, Paul Yao N’Dre, afirmou que os resultados eram “nulos” por terem sido anunciados após o prazo legal da quarta-feira.

Na sexta-feira, o conselho anunciou Gbagbo como vencedor com 51% dos votos, ignorando mais de 500 mil votos de regiões nas quais Ouattara havia vencido.

Os novos resultados passaram então a ser divulgados de maneira constante pelas estações de rádio e de TV do país.

Divisão

Ouattara e Gbagbo representam os dois lados da divisão entre o norte e o sul do país em termos religiosos, culturais e administrativos, com o norte ainda controlado em parte por ex-rebeldes.

Em um comunicado, o primeiro-ministro do país, Guillaume Soro, disse que a anulação de votos “ameaça o ideal de reunificação do país”.

O correspondente da BBC John James, na capital marfinense, Abdijã, disse que a decisão do Conselho Constitucional foi um choque para muitos no país, especialmente para a oposição.

Jovens simpatizantes dos dois lados tomaram as ruas de Abdijã e de outras cidades do país, atirando pedras e ateando fogo a pneus.

Ao menos quatro pessoas foram mortas nos enfrentamentos na capital nesta semana.

As Forças Armadas fecharam as fronteiras do país e as fontes internacionais de notícias foram suspensas. Um toque de recolher noturno também foi imposto.

Tanto o Exército do país quanto as forças de paz da ONU vêm patrulhando as ruas de Abdijã desde o último domingo.