Ao fazer ontem (25) o discurso sobre o Estado da União – uma espécie de apresentação do programa de governo ao Congresso -, o presidente norte-americano, Barack Obama, mencionou temas controvertidos e a viagem ao Brasil, em março. No mesmo período, Obama irá ao Chile e a El Salvador, na sua primeira visita às Américas do Sul e Central. Segundo ele, a viagem será para “forjar novas alianças para o progresso nas Américas”.
“O presidente [Obama] espera se encontrar com a nova presidenta do Brasil, Dilma Rousseff, para discutir áreas de interesse mútuo que ajudarão a fazer avançar a excelente relação que nós já temos com o governo brasileiro”, disse o porta-voz do Conselho de Segurança Nacional, Mike Hammer.
O porta-voz acrescentou que essas áreas incluem “energia limpa, crescimento global, reconstrução, assistência ao Haiti, esforços de desenvolvimento colaborativo e outras questões de importância global”.
Na política externa, Brasil e Estados Unidos divergem em alguns aspectos. Os pontos de atrito envolveram diversos temas, como um acordo militar entre Estados Unidos e Colômbia, que permitia aos americanos usar bases em território colombiano, e a crise gerada em torno do ex- presidente de Honduras, Manuel Zelaya.
Para os norte-americanos, também há controvérsias sobre as relações entre os governo do Brasil e o do presidente do Irã, Mahmoud Ahmadinejad. No ano passado, o Brasil não apoiou a aplicação de uma quarta rodada de sanções da ONU contra o programa nuclear iraniano, aprovada pelo Conselho de Segurança em junho.
O discurso de Obama foi intenso e ele apelou para que a população colabore na busca por inovação e união. Em meio à divisão de poder no Parlamento norte-americano, com os republicanos agora no comando da Câmara dos Representantes (deputados federais) depois da vitória nas eleições legislativas de novembro, o presidente pediu que todos trabalhem de forma coesa.
“O que está em jogo não é quem vence as próximas eleições”, disse Obama. “Está em jogo se novos empregos e indústrias irão se estabelecer neste país ou em outro lugar.”
Segundo o presidente, é necessário investir em inovação, infraestrutura, educação, pesquisa biomédica, tecnologia da informação e energias limpas. “Este é o momento Sputnik da nossa geração”, disse ele, referindo-se ao satélite que os russos colocaram em órbita em 1957, antes dos Estados Unidos. “Dois anos atrás, eu disse que nós precisávamos atingir um nível de pesquisa e desenvolvimento não visto desde o auge da corrida espacial”, afirmou.
Para Obama, houve avanços após a recessão e a economia voltou a crescer, mas ainda há muito a fazer. De acordo com ele, é necessário redobrar os esforços para sustentar o “sonho americano”. Cada geração teve de se sacrificar, lutar e atender às demandas de uma nova era. “Agora é a nossa vez”, afirmou. “Nós temos de fazer da América o melhor lugar do mundo para se fazer negócios.”
O presidente afirmou que o país convive com o legado de um déficit que começou há quase uma década e que, durante a recessão, foi necessário adotar medidas para sustentar o crédito e salvar empregos. “Mas agora que o pior da recessão já passou, temos de confrontar o fato de que nosso governo gasta mais do que arrecada. Isso não é sustentável”, disse.
Segundo projeções do Fundo Monetário Internacional (FMI), o déficit fiscal americano deverá ultrapassar 10% do PIB (Produto Interno Bruto) neste ano. Obama propôs congelar os gastos domésticos pelos próximos cinco anos, o que reduziria o déficit em mais de US$ 400 bilhões na próxima década.
A polêmica em torno da imigração ilegal nos Estados Unidos, que envolve divisões de opiniões por todo o país, também foi mencionada. Os EUA tem hoje cerca de 12 milhões de imigrantes ilegais. “Estou preparado para trabalhar com republicanos e democratas para proteger nossas fronteira, garantir o cumprimento de nossas leis e abordar o problema dos milhões de trabalhadores sem documentos que neste momento vivem nas sombras”, disse ele.
O presidente também citou ainda a decisão de retirar as tropas do Iraque neste ano e do início da retirada do Afeganistão. Ele mencionou a luta contra a rede extremista Al-Qaeda e o Talibã e o acordo para redução de arsenais nucleares firmado com a Rússia.