O diretor-geral do Fundo Monetário Internacional (FMI), Murilo Portugal – terceiro cargo mais importante da instituição -, considerou acertada a decisão do Banco Central de elevar os juros para controlar a inflação, medida que não altera a trajetória futura de queda das taxas do país. Ele faz apenas o alerta de que é necessário elevar a poupança interna para depender um pouco menos da poupança externa no processo de financiamento do investimento.
“A inflação estava acelerando e era isso que tinha que fazer. Agora a trajetória futura das taxas de juros é de queda”, disse Portugal, por telefone, da sede do FMI em Washington (EUA), à Agência Brasil.
Ele afirmou ainda que os bons fundamentos econômicos do país vêm contribuindo para a redução gradual das taxas de juros nos últimos anos. Lembrou que o Banco Central chegou a operar com taxas reais de 20% ao ano.
A iniciativa da presidenta Dilma Rousseff de elevar o atual patamar de investimento, equivalente a 19% do Produto Interno Bruto (PIB), para 24% até 2014 é vista por Murilo Portugal como uma estratégia importante para garantir o crescimento da economia com distribuição de renda. Isso deve ser feito dentro de um processo de redução da inflação e com a implementação de reformas estruturais que possam melhorar ainda mais a competitividade da economia.
“É importante o Brasil elevar o investimento, para isso tem que aumentar a poupança interna, sem precisar recorrer muito à poupança externa”, disse ele. A poupança interna é tudo que não é consumido na esfera pública e pelo setor privado. Atualmente o governo gasta mais do que arrecada e se financia com poupança do setor privado. Ao fazer um controle maior de seus gastos, o governo ajuda a formar uma poupança para financiar os investimentos de obras públicas e libera os recursos que usa na rolagem dos papéis do Tesouro Nacional para o setor privado investir em novos empreendimentos.
O Brasil, por outro lado, está tendo grande oportunidade pelo papel que vem ocupando no cenário mundial. A atual política cambial, reafirmada pelo governo de Dilma Rousseff, é uma conquista. Para Portugal, a valorização do real é resultante do conjunto das medidas da política de estabilização da economia brasileira.
“Se o câmbio estiver mais desvalorizado, estimula ainda mais a captação de recursos de investimento direto”, disse o diretor, que nos últimos anos acompanhou o comportamento da economia de 81 países pelo FMI. Ele reconheceu que alguns setores podem estar passando por dificuldade devido à valorização do real diante das demais moedas, mas lembrou que isso é reflexo do bom momento da economia do país. Com uma desvalorização do real pode ficar mais atrativo para o capital estrangeiro investir em novos setores produtivos.