As Forças Armadas que vão garantir a transição no Egito, após a renúncia do presidente Hosni Mubarak, são uma instituição essencialmente progressista, disse hoje (11) o vice-presidente do Instituto de Cultura Árabe no Brasil, Mohamed Habib, que também é professor de ecologia da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). Habib é egípcio e está no Brasil desde 1972.
Para ele, o papel que os militares exercem hoje é semelhante ao que exerciam em 1952, quando o rei Faruk I foi deposto. “Não é novidade que as Forças Armadas tenham ficado ao lado da população desde 25 de janeiro até hoje, eles já fizeram isso em 1952, quando tiraram o rei Faruk e acabaram com a última monarquia”, disse.
Com exceção do que chama de “comando central”, Habib garante que os militares egípcios são progressistas, “principalmente os jovens oficiais”. Por isso, acredita que a junta militar será capaz de reformular a Constituição do país com o apoio de políticos e intelectuais.
Na avaliação do professor, não existe a possibilidade de radicais islâmicos aproveitarem do processo de transição para tomar o poder. “Nunca no Egito grupos religiosos tomaram o poder, sempre foi um país laico”. Para Habib, o receio é baseado em “um pretexto que o Mubarak usava para chantagear os Estados Unidos e não ser abandonado”.
De acordo com ele, os islâmicos têm se mostrado comprometidos com o estabelecimento de uma democracia e não detêm projeto político voltado para o Poder Executivo. Em uma eleição direta, Habib estima que os candidatos religiosos conquistariam no máximo 10% das cadeiras no Parlamento.
A revolta, que o professor considera como um dos momentos mais felizes do Egito, é uma conquista dos jovens. Segundo ele, “90% daqueles jovens que estavam na praça central da Universidade do Cairo eram jovens formados pela universidade por no mínimo há cinco anos e sem emprego”.
Na avaliação do professor, a corrupção que deteriorou a qualidade de vida da população foi a motivação das manifestações que levaram a renúncia de Mubarak.
Habib disse que apesar da deposição do governo da Tunísia e do Egito terem ocorrido de forma sequencial, não acredita que esteja acontecendo uma revolução no mundo árabe. Na opinião dele, trata-se de uma mudança na correlação de forças entre “os governantes e os governados”. “Nas monarquias, os reis vão começar a afrouxar um pouco a pressão em cima da sociedade. E as repúblicas vão buscar critérios mais democráticos”, completou.