Um esquema especial de segurança precisou ser montado pelo Palácio do Planalto para trazer da Argentina a obra Abaporu, de Tarsila do Amaral, para a exposição em homenagem ao mês das mulheres. Dezesseis anos após ter sido arrematada em um leilão em Nova York por um colecionador argentino, a obra chegou ao Planalto nessa quarta-feira (16) à noite e, devido às dimensões da embalagem, foi carregada para o primeiro andar do palácio pela rampa, sob forte esquema de segurança.
Trata-se de uma obra cara e o empréstimo foi tratado pessoalmente pela presidenta Dilma Rousseff com o proprietário da obra, que fez uma série de exigências. A Embaixada do Brasil na Argentina foi acionada para viabilizar, junto com a curadoria feita pela Fundação Armando Alvares Penteado (Faap) de São Paulo, as condições ideais para o traslado da obra de Buenos Aires até Brasília.
Símbolo representativo da pintura modernista brasileira, o quadro Abaporu estava no Museu de Arte Latino-Americano de Buenos Aires (Malba) e foi cedido para a exposição pelo seu dono, o colecionador argentino Eduardo Costantini. Quando foi arrematado por Constantini, em um leilão em Nova York em 1995, o valor pago pela obra foi US$ 1,5 milhão.
A pintura foi cedida pelo colecionador para ficar no Brasil durante um mês e meio, tempo que durará a exposição a ser inaugurada pela presidenta no próximo dia 23. Símbolo máximo da antropofagia brasileira, o nome Abaporu significa, em Tupi, “homem que come gente”, uma referência à proposta modernista de “deglutir” a cultura estrangeira, fazendo uma releitura com base na realidade brasileira.
O quadro foi pintado em óleo sobre tela em 1928. A pintora Tarsila do Amaral deu o Abaporu de presente ao seu marido na época, o escritor Oswald de Andrade.
O transporte seguiu padrões internacionais e para garantir a integridade do queadro foram observados pontos importantes nas condições em que a obra será exposta no Brasil. Por seu altíssimo valor de mercado, o Abaporu será a única peça da exposição Mulheres Artistas e Brasileiras – Produção do Século 20 que ficará dentro de um espaço coberto com vidro antirreflexo.
Providências para garantir um local sem muita umidade ou calor, com uma temperatura estável, além de iluminação indireta que não infuencie na pigmentação da peça, precisaram ser tomadas. É a primeira vez que uma exposição aberta ao público é montada no segundo andar do Palácio do Palácio do Planalto. Eventualmente, a sede do governo federal realiza mostras no primeiro andar. No entanto, as condições climáticas obrigaram a Presidência a transformar o lado oeste do Salão Nobre em uma galeria de arte. Parte das paredes foi revestida de um tecido rústico e pintada com uma cor chamada menininha, um rosa claro.
A exposição Mulheres Artistas e Brasileiras – Produção do Século 20 reunirá cerca de 80 obras, entre telas e esculturas, instalações e gravuras de 49 artistas brasileiras. Muitas das obras que serão expostas fazem parte dos acervos de órgãos públicos, principalmente do próprio Palácio do Planalto, do Palácio Itamaraty e do Banco Central.
Também serão expostos quadros de Djanira e Anita Malfatti, gravuras de Tomie Ohtake, entre outras artistas. A mostra terá ainda obras de artistas contemporâneas como a pintura Estive Feliz, de Beatriz Milhazes, e a tela No Bosque, de Mariannita Luzzati, esculturas de Maria Martins e as instalações interativas de Mary Vieira. Não faltarão bonecas de barro feitas por artistas populares da região do Vale do Jequitinhonha (MG).