O deputado japonês Taro Kono fez duras acusações sobre o programa de energia nuclear de seu país e chegou a acusar o governo de ocultar informações sobre acidentes nucleares e obscurecer os verdadeiros custos e problemas associados à indústria nuclear. O cenário foi apresentado a uma equipe diplomática americana em outubro de 2008 e resultou em um documento diplomático revelado pelo site WikiLeaks e publicado pelo jornal britânico “Guardian”.
O deputado Kono é um dos principais líderes do Partido Liberal-Democrata, que governou o país de 1995 a 2009. Ele fez duras críticas à atuação do Ministério da Economia, Comércio e Indústria, responsável pelo setor nuclear no país, e às companhias energéticas japonesa.
O deputado cita como exemplo da má conduta sua reação ao acidente de 1995 com a usina nuclear de Monju. Após o vazamento de centenas de quilos de sódio, o governo foi acusado de falsificar relatórios e de editar imagens filmadas logo após o acidente.
Kono diz que, em vez de cancelar projetos similares, as companhias de energia desenvolveram uma técnica de combustível nuclear chamada óxido misto, usada no reprocessamento de materiais. Kono considerava esse processo extremamente oneroso e diz que “teria sido mais barato comprar uma montanha de urânio na Austrália”.
Kono diz que este custo está sendo repassado aos japoneses em suas contas de energia e que os cidadãos não têm consciência de quão caro pagam pelo serviço, em comparação aos demais países.
Ele acusa ainda o ministério de se apegar a velhas políticas, como os padrões de radiação para alimentos importados, adotados depois da tragédia de Tchernobil em 1986 e nunca alterados. Outros países já reduziram a quantidade de radiação permitida.
O ministério, afirma Kono, censura ainda as críticas e observações feitas pelos americanos sobre o programa nuclear japonês e diz, segundo o telegrama, que a pasta escolhe apenas as partes da mensagem que gosta para repassar aos parlamentares.
Ele alega ainda que as equipes dos comitês do Parlamento são formadas por funcionários ligados aos ministérios e que ele nem ao menos tem a autoridade de contratar ou demitir seus funcionários.
Kono criticou ainda a política de descarte do lixo nuclear e afirmou que o Japão não tem um depósito permanente para este material. Ele lembrou ainda que o Japão é suscetível a tremores e tem muitos vulcões e questionou se há lugar seguro para este material nestas condições.