A necessidade de reconstruir o país, gravemente atingido pelo terremoto da última sexta-feira (11), deverá levar os japoneses a repatriar ativos depositados no exterior. Hoje, o montante é de cerca de US$ 1 trilhão, dinheiro investido, principalmente, nos Estados Unidos. Segundo o professor de economia da Universidade de São Paulo (USP) Carlos Eduardo Gonçalves, esse retorno de capital irá financiar a reconstrução das cidades e da infraestrutura e poderá fazer o Japão voltar a crescer no médio prazo. No curto prazo, a queda do Produto Interno Bruto (PIB) é inevitável.
“No médio prazo, a gente tem evidência estatística que esses lugares que sofrem devastações, bombardeios, catástrofes naturais, onde o estoque de capital do país é destruído, crescem rapidamente”, afirmou. De acordo com o professor, a repatriação de recursos também será feita pelas resseguradoras japonesas, empresas que cobrem contratos de outras seguradoras. As resseguradoras japonesas que, para diminuir riscos repassam os contratos mais elevados para resseguradoras internacionais, trarão agora de volta o capital do exterior. “As resseguradoras precisam recapitalizar as seguradoras, e elas vendem títulos em dólares para botar dinheiro para dentro do Japão. Provavelmente, o que a gente vai ver é uma saída de capital dos Estados Unidos para o Japão”, explicou o professor.
No curto prazo, porém, o cenário é diferente. Com parte da infraestrutura do país destruída, principalmente o setor de energia, o Japão terá o crescimento prejudicado. “O ponto chave é que foram afetadas as usinas nucleares e eles [os japoneses] não têm muitos outros tipos de energia lá”, disse Gonçalves. O professor considera ainda que as dificuldades imediatas do Japão estarão centradas no alto índice de endividamento do país. “É difícil para o governo achar mais espaço para arrecadar mais fundo para financiar [a reconstrução]”, alertou.
Apesar das dificuldades, ele ressaltou que o Japão hoje está muito mais bem preparado para se reconstruir do que no perído que se seguiu à 2ª Guerra Mundial. “O Japão é tecnologicamente muito mais bem preparado para lidar com essas coisas. A destruição do capital humano, de capital físico, de infraestrutura, é similar [à provocada pela guerra], em proporções menores. Mas a capacidade de reação hoje é muito maior, até porque é um país mais rico, 60 anos depois”.