O ministro Cezar Peluso, presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), tratou com certa ironia o episódio em que M.P.C., um adolescente de 14 anos, foi baleado à queima-roupa por policiais militares em Manaus. “No Amazonas, tivemos um grave acontecimento em que policiais militares tentaram assassinar um jovem desarmado. Foram flagrados por uma câmera e o jovem se salvou por má pontaria e incompetência policial”, afirmou Peluso, ante plateia de estudantes de Direito, advogados, delegados e militares no auditório da Fundação Armando Álvares Penteado (Faap), em São Paulo.

Peluso participava do I Seminário sobre Segurança Pública e criticava a sucessão de casos de violência e corrupção na polícia. “São graves problemas da área de segurança, a questão crônica da violência e da corrupção. Na Bahia, o governo não pagou a conta e a delegacia ficou sem luz. Em São Paulo, policiais fiscalizando o secretário de Segurança (Antonio Ferreira Pinto).”

O soldado Wilson Henrique Ribeiro da Cunha, um dos sete PMs envolvidos no crime de Manaus, ocorrido em 17 de agosto do ano passado, está foragido. Os outros seis PMs estão detidos em um batalhão. Cunha e seus colegas tiveram prisão preventiva decretada ontem. O vídeo, gravado com câmera particular, mostra o rapaz acuado e alvejado por três tiros.

Outro soldado foi detido na quarta-feira em uma boca de fumo. Janderson Nunes Ferreira tinha no bolso “pequena quantidade de cocaína”. Ele afirmou que a droga era para seu consumo.

Segundo fonte do Ministério Público, de acordo com o relato de M.P.C. ao procurador João Bosco Sá Valente – feito antes de ele e sua família serem incluídos no Programa de Proteção a Vítimas e Testemunhas Ameaçadas no Amazonas -, outro rapaz, de 16 anos, teria recebido os policiais a tiros naquele dia, quando um grupo consumia drogas, inclusive M.P.C.. Ele e seu irmão, de 17 anos, teriam matado a facadas o jovem de 16 anos em setembro. O garoto assassinado estaria ameaçando matar os irmãos desde que M.P.C. saiu do hospital, em agosto. Seu temor era que os irmãos revelassem quem tinha atirado nos policiais.

A Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) do Amazonas repudiou a ação “abusiva e cruel” dos policiais. O Ministério Público informou que os seis policiais foram ouvidos. O relato de um deles, Rosivaldo Pereira, é desmentido pelas imagens feitas pela TV A Crítica, repetidora da Rede Record. Segundo o boletim 10E40190041080, os soldados, ao abordarem “traficantes de drogas, foram recebidos a tiros e, para se defenderem, reagiram e atingiram o elemento”.