Um dia após indiciar a fabricante de aviões Airbus por homicídio involuntário, a Justiça francesa decidiu responsabilizar também a companhia aérea Air France pelo acidente em que morreram as 228 pessoas que viajavam a bordo do voo 447 que ia do Rio para Paris e que caiu no Oceano Atlântico, em 31 de maio de 2009.
A audiência ocorrida hoje (18), em Paris, durou menos de uma hora e resultou no indiciamento da empresa aérea por homicídio culposo, ou seja, quando não há intenção de matar. A Agência Brasil entrou em contato com a assessoria da empresa, no Brasil, mas ainda não recebeu retorno.
As razões do acidente continuam sendo investigadas, mas há fortes suspeitas de que a tragédia tenha sido causada por uma falha nos sensores de velocidade (pitot) da aeronave que podem ter congelado durante o voo. Com base nesta hipótese, peritos da Justiça francesa questionam a demora da Airbus e da Air France em reagir a outros incidentes ocorridos antes da catástrofe do voo AF 447 envolvendo os sensores.
Para o presidente da Associação das Famílias e Vítimas do Voo 447 da Air France, Nelson Faria Marinho, a decisão da juíza Sylvie Zimmerman é resultado da pressão de entidades de vários países que reúnem parentes dos mortos. “Não é porque eles [autoridades francesas] são bonzinhos. É porque eles têm uma responsabilidade muito grande com os 32 países de origem das vítimas”, disse Faria.
Após dois anos acompanhando os andamentos de investigações em curso no Brasil e na França e conversando com pilotos, comissários, especialistas em aviação e representantes de entidades de classe de vários países, Marinho diz estar convencido de que a culpa pelo acidente em que seu filho, Nelson Faria, de 40 anos, morreu, é das duas empresas.
“O problema é que a aeronave já sai da fábrica com problemas. Outro é que a Air France não tem uma manutenção adequada. Pilotos da própria Air France relataram problemas nos computadores de bordo, entre outros”, afirmou Marinho, mencionando uma série de acidentes com aviões da Airbus ocorridos após a queda do voo 447 – como o de junho de 2009, no Oceano Índico, e de maio de 2010, na Líbia. “Tudo aponta para a responsabilidade das duas e não é preciso nem mesmo as caixas-pretas para concluirmos isso. Os indícios são muito fortes. Eu acredito muito na culpa das duas empresas”, disse Faria.
A decisão de indiciar a fabricante de aviões ocorre dias antes do lançamento da quarta fase de buscas dos destroços do avião da Air France, que deverá ser lançada no Porto de Suape, em Pernambuco, no dia 21 deste mês, em uma nova área de 10 mil quilômetros quadrados.
De acordo com a legislação francesa, que permite que pessoas jurídicas sejam processadas penalmente, se condenadas, Air France e Airbus podem sofrer multas e sanções financeiras até 1 milhão de euros e mesmo ter suas atividades encerradas pela Justiça. Além disso, uma eventual condenação judicial neste processo pode influenciar o julgamento das ações cíveis de indenizações movidas por parentes das vítimas.
As investigações na Justiça ocorrem paralelamente às feitas pelo BEA (Escritório de Investigações e Análises, na sigla em francês), órgão ligado ao Ministério dos Transportes e responsável por apurar as causas do acidente.