O ditador da Líbia, Muammar Kadhafi, disse em discurso nesta quarta-feira (2) que o poder em seu país “não é do governo” nem dele, mas “do povo”, e manteve o tom de desafio que ostenta desde o início da rebelião popular contra seu contestado governo.
O coronel também afirmou que vai “enfiar os dedos nos olhos” de quem desafiar o “poder do povo” na Líbia.
Ele disse também que “milhares de líbios morrerão” se os EUA ou outra potência internacional entrarem na Líbia, e garantiu estar disposto a negociar mudanças constitucionais sem violência.
Falando a partidários, com transmissão ao vivo pela TV estatal, Kadhafi afirmou que o mundo “não entende” o sistema líbio de democracia direta, explicado em seu “Livro Verde”, espécie de Constituição informal do governo, no poder desde uma revolução em 1969.
“Desde 1977, é o povo líbio que exerce o poder”, disse Kadhafi no longo discurso.
O coronel também afirmou que “não é presidente” e, portanto, não pode renunciar ao seu cargo.
“Muammar Kadhafi não é um presidente para renunciar, ele não tem um Parlamento para dissolver”, disse. “O sistema líbio é um sistema do povo e ninguém pode ir contra a autoridade do povo…O povo é livre para escolher a autoridade que lhe convém.”
O ditador também negou que a Líbia rebelada enfrente “problemas internos”, disse que não há confrontos em Benghazi e voltou a culpar a rede terrorista da al-Qaeda pela agitação no país.
“Células adormecidas da Al-Qaeda, seus elementos, se infiltraram gradualmente… Eles acreditam que o mundo é deles, lutam em qualquer lugar, os serviços de inteligência os conhecem pelo nome, acusou.
Kadhafi também minimizou o número de mortos pela repressão aos 16 dias de protestos, dizendo agora que eles seriam “cerca de 150”.
Organizações ocidentais de direitos humanos acreditam que pelo menos 2.000 pessoas tenham morrido nos confrontos.
Kadhafi também pediu que a ONU e a Otan investiguem os fatos na Líbia e disse que há uma “conspiração” tramada no exterior para colonizar o país e tomar posse de seu petróleo. Ele afirmou também que as Nações Unidas estão tomando decisões baseados em falsos relatos.
O ditador reiterou que suas forças vão “combater até a última gota de sangue” para proteger a Líbia.
Kadhafi disse que o congelamento de bens do governo líbio no exterior é “ursupação e roubo do dinheiro do povo”.
Antes da fala, a TV estatal mostrou imagens do ditador durante uma festa política na capital, Trípoli, na qual ele apareceu cercado de apoiadores que gritavam slogans a seu favor.
A cerimônia celebrava o 34º aniversário da instauração do “poder das massas” na Líbia, informou a emissora estatal.
“Você sempre será grande”, disseram os manifestantes.
Antes do discurso, Kadhafi e os manifestantes cantaram o hino nacional.
Confrontos
A aparição ocorre em meio a contraditórios relatos de confrontos pelo país, com forças leais ao governo tentando retomar o controle de cidades no poder dos rebeldes antigoverno. Também há relatos de confrontos próximo a Trípoli.
Também crescem as pressões diplomáticas e militares sobre o ditador, no poder desde 1969.
Nesta terça, a Assembleia Geral da ONU decidiu suspender a Líbia do Conselho de Direitos Humanos da entidade. A decisão foi unânime.
O presidente da Comissão Europeia, José Manuel Barroso, fez um apelo a Kadhafi para que ele renuncie ao poder e “devolva o país ao povo da Líbia”.
O Pentágono também anunciou que está aproximando dos navios militares anfíbios da costa líbia.
Dois navios de assalto anfíbio dos EUA, o USS Kearsarge e o USS Ponce, entraram nesta quarta-feira no canal de Suez, no Egito, a caminho da costa da Líbia, disse um funcionário da administração do canal.
As embarcações, acompanhadas por rebocadores, devem concluir a travessia do mar Vermelho para o Mediterrâneo até as 16h (11h em Brasília).
A princípio, o objetivo das centenas de fuzileiros é ajudar em operações humanitárias, segundo a Defesa dos EUA, mas a opção militar “ainda está na mesa”.