O desastre natural que destruiu a Região Nordeste do Japão, vitimando mais de 4 mil pessoas e deixando outras 9 mil desaparecidas, segundo os dados da Polícia Nacional Japonesa, trouxe uma série de incertezas econômicas no cenário mundial.
Ocupante da sexta posição na balança comercial brasileira, a expectativa, apesar da dimensão da tragédia, no entanto, é que a relação de comércio entre os dois países não seja afetada. De acordo com o economista chefe do Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi), Rogério Cézar Souza, não deve ocorrer mudança significativa na relação comercial entre o Brasil e o Japão.
“Ainda é difícil mensurar, mas não acredito em efeito severo quando avaliarmos o ano todo”, disse. Além disso, o especialista acredita em uma rápida recuperação japonesa. “Não deve haver efeito a longo prazo. O país vai se restabelecer o mais rápido possível e retomar o comércio exterior. Medidas de subsídios e desoneração de impostos devem ser tomadas”.
Souza ressaltou que o maior problema do país atingido será resolver problemas de infraestrutura. “O abalo será momentâneo, mais por questões físicas, que por questões econômicas”, analisou. Mudança nos preços dos produtos importados também estão descartadas, no momento. “Não dá para falar em aumento no preço dos carros e de eletrônicos, por exemplo. O efeito não vai ser tão direto”, avaliou.
Se o clima é de apreensão no cenário econômico, para o presidente do Sindicato das Indústrias de Aparelhos Elétricos, Eletrônicos e Similares (Sinaees), Wilson Périco, representante das empresas japonesas instaladas no Polo Industrial de Manaus (PIM), não há sinais de que haverá mudanças na relação comercial com o Japão. “As informações que temos das transportadoras é que não há problema nesse sentido. Os principais portos e aeroportos não foram atingidos. Ainda não tivemos nenhum reflexo”, garantiu.
Preventivamente, no entanto, os empresários já buscam alternativas de diferentes mercados fornecedores de produtos eletrônicos. “Como existe uma possibilidade de mudança, temos buscado outros fornecedores entre os países asiáticos”, admitiu Périco. Segundo ele, o Vietnã, a Tailândia e Taiwan podem suprir o mercado de produtos eletrônicos por um período. Atualmente, 37 empresas japonesas têm instalações no Polo Industrial de Manaus.
A Superintendência da Zona Franca de Manaus (Suframa) ainda analisa os efeitos da catástrofe ocorrida nos últimos dias. “De imediato, não deve haver grande impacto, porém vamos avaliar a situação caso a caso”, comentou a superintendente da autarquia, Flávia Grosso. O efeito não deve ser evidente, porque a maior parte das empresas instaladas no local, dependentes de insumos das matrizes, costumam deixar estoques para 30 a 60 dias. Além disso, de forma geral, as principais empresas japonesas instaladas no PIM têm um alto grau de nacionalização e de regionalização das etapas de produção.
Em 2010, a balança comercial entre o Brasil e o Japão foi superavitária em US$ 159 milhões. As exportações somaram US$ 7,1 bilhões, enquanto a importações registradas foram de US$ 6,9 bilhões. Entre os principais produtos vendidos pelo Brasil estão minério de ferro e pedaços de frango, que somaram US$ 254 milhões e US$ 71 milhões, respectivamente, no ano passado. Os dois itens correspondem a 52% do total exportado.
No caso das importações brasileiras, o destaque fica por conta da compra de automóveis, que foi responsável por 6,26% do total importado. Em valores absolutos, as compras somaram cerca de US$ 39 milhões. Em seguida, aparecem os trilhos de aço e peças automotivas, no qual foram gastos US$ 29 milhões e US$ 16 milhões, respectivamente.
Analisando o mês de janeiro de 2011 frente o mesmo mês do ano passado, os números cresceram significativamente. Nas vendas externas, o aumento foi de 74,9%, com as exportações brasileiras para o Japão passando de US$ 351 milhões para US$ 614 milhões. Nas importações, o aumento foi de 36%. A participação dos produtos japoneses passou de US$ 454 milhões para US$ 621 milhões.