A cena se tornou comum no Morumbi, na noite de anteontem. Logo que entravam, as pessoas abriam a boca diante da gigantesca estrutura erguida no centro do gramado do estádio. O palco montado pelo U2 para sua turnê 360º, apelidado de “the claw” (a garra, em português), surpreendeu todos. São quatro grandes patas metálicas, como se fossem de uma aranha, que se encontram no alto, unidas por outra estrutura, que atinge incríveis 46 metros de altura – o que equivale a um prédio de 15 andares. No centro disso, o palco, com pontes móveis que levam para uma pista circular, pela qual Bono, The Edge e companhia podem zanzar durante a apresentação. Acima disso, um telão circular, igualmente imponente.
Pouco antes do U2 entrar naquela estrutura, os alto-falantes do Morumbi tocaram a introdução, com trecho do samba “Trem das Onze” e “Space Oddity”, de David Bowie. Às 21h43, as luzes se apagaram. O Morumbi tremeu literalmente. O telão de LED circular mostrava, em 360º (claro!), Bono (voz), The Edge (guitarra), Adam Clayton (baixo) e Larry Mullen Jr. (bateria) caminhando para o palco, sob aplausos do estádio já lotado.
A trupe irlandesa começou com “Even Better Than The Real Thing”, do álbum “Achtung Baby”, de 1991. Poucos conheciam a letra da música, que está longe de ser um dos clássicos da banda. Mas a beleza do palco, o telão magistral, e a vibração de Bono e companhia contagiavam. Foi assim nas primeiras cinco músicas, entre elas, I Will Follow, Mysterious Ways. Depois disso, só vieram os clássicos, com “Elevation”, “Until the End of the World”, “I Still Haven”t Found What I”m Looking For” e “Beautiful Day”. Com 35 anos de estrada, o U2 tem hits para horas de apresentação.
A performance de Bono é um show à parte. Simpático, ele agradeceu aos 88 mil presentes. Bono chamou, ainda, uma menina no palco, como fez em 2006, na segunda passagem por aqui. Desta vez, ele não a beijou e, sim, entregou à moça uma folha de papel e pediu para que ela lesse no microfone. Era um trecho de “Carinhoso”, de Braguinha e Pixinguinha. Seria brega, se não viesse de Bono.
Mais adiante, vieram as açucaradas “Walk One One”, até que a introdução de “Help”, dos Beatles, pegou todos de surpresa, antes que “Where the Streets Have no Name” fosse iniciada. “With or Without You” foi cantada em coro do início ao fim. Começou, então, a linda “Moment of Surrender”, dedicada por Bono à tragédia no Realengo, ocorrida no Rio de Janeiro. No telão, subiram os nomes de todas as crianças assassinadas. Nada de luzes coloridas vindas do palco. O vocalista queria um momento de reflexão, de luto. E, olhando para os lados, o difícil era encontrar quem não estivesse, no mínimo, com os olhos marejados. Às 23h53, o U2 deixou o palco. Os refletores do estádio se acenderam e, só então, os 88 mil conseguiram sair do transe, desgrudar os olhos do palco e, enfim, fechar a boca.