Dois especialistas espanhóis em atenção primária à saúde estão no Brasil para avaliar os serviços dos centros de saúde de 40 cidades do país. Eles foram convidados pela Sociedade Brasileira de Medicina de Família e Comunidade (SBMFC), com o apoio das secretarias municipais de Saúde. A medida tem o objetivo de fortalecer e qualificar o programa Saúde da Família do governo federal.
Os médicos Juan Gérvas e Mercedes Péres Fernández estão no Rio de Janeiro e conheceram três centro de Saúde da Família da Favela da Rocinha, em São Conrado, e dos bairros de Campo Grande e Pedra de Guaratiba. Os dois especialistas também estiveram em Curitiba, Porto Alegre, Florianópolis e São Paulo.
O presidente da SBMFC, Gustavo Gusso, disse que os dois médicos vão ficar no Brasil até o fim de junho, quando farão um relatório com análises e diretrizes os serviços dos centros e do Programa Saúde da Família. O documento será entregue ao Ministério da Saúde e às secretarias municipais.
“O Juan Gérvas e a Mercedes talvez sejam os especialistas mais importantes do mundo na área de atenção primária, e eles se aposentaram em 2009. Então tivemos essa sorte deles terem a disponibilidade de ficarem aqui três meses percorrendo o Brasil e fazendo uma avaliação dos centros de saúde. Acho que vamos ter um dos relatórios mais completos com panorama de como anda a atenção primária no Brasil”.
Embora a visita esteja apenas começando, os médicos já identificaram alguns problemas comuns aos centros, como o subaproveitamento dos médicos e agentes de saúde. Ao mesmo tempo, o serviço de saúde bucal foi um dos pontos positivos ressaltados pelos espanhóis. No entanto, eles lamentaram o fato dos profissionais envolvidos com o programa ficarem limitados a atividades de prevenção. “É uma pena que profissionais tão preparados sejam limitados apenas à prevenção e a ensinar pacientes a escovarem os dentes. Esses profissionais acabam perdendo um pouco da autoestima”, disse Mercedes Péres. “Os prontos-socorros estão assumindo muitas obrigações que são características da atenção básica”, completou.
Os médicos espanhóis destacaram, também, o problema da falta de autonomia administrativa dos diretores dos centros de saúde, impossibilitados até de fazerem uma simples compra de material descartável. “Eles não têm condições de comprar uma pilha se acabar. Há muita burocracia e rigidez. É necessário flexibilizar as tomadas de decisões”, afirmou Juan Gérvas.
A alta rotatividade dos médicos nos centros de saúde básica foi outro ponto considerado negativo por Gérvas. Ele defendeu que sejam adotadas medidas de estímulo para evitar que os profissionais desistam de trabalhar nos centros de saúde. “É necessário um incentivo por parte do governo que, em princípio, não precisa ser financeiro, mas que deve existir para que os profissionais permaneçam nos locais, e estejam satisfeitos, pois um médico que muda de lugar o tempo todo não conhece a comunidade e, sem conhecê-la, o serviço de atenção básica fica muito prejudicado”.
Gévas acredita que uma lista bem definida dos pacientes de cada médico ajudaria a otimizar a assistência “E que o médico assuma a responsabilidade desta lista, criando vínculos e fortalecendo a prevenção”.
O Programa Saúde da Família tem 31.500 equipes atendendo 99% dos municípios brasileiros. Cada equipe é formada por um médico, enfermeiros, assistentes de enfermaria e agentes de saúde. O presidente da SBMFC, Gustavo Gusso, afirmou que cada equipe atende cerca de 4 mil pessoas. “É preciso estruturar muito bem a equipe ou contratar mais profissionais. Com o diagnóstico, será possível traçar um caminho para qualificar esse serviço”. disse.