O motorista de ônibus Joílson Chagas, 31 anos, perdeu sua casa nas enchentes na serra fluminense, mora de favor na casa de um parente e sua mulher ainda está à espera do segundo filho do casal. Ainda assim, ele não teve dúvidas sobre o que fazer com uma mala contendo R$ 74 mil em notas de R$ 100 que achou no veículo que dirigia: a devolver ao dono. Ao encontrá-lo, descobriu que o passageiro que perdera a mala também era uma vítima das chuvas na região.
Ele passou por essa experiência na semana passada, ao revistar o ônibus que acabara de conduzir no trajeto de Nova Friburgo ¿ onde vice – para o Rio. Na tragédia das chuvas na serra, em janeiro, perdeu a casa, mas não se arrepende de não ter ficado com o dinheiro. “Alguns amigos disseram que eu sou louco, mas aquele dinheiro não era meu”, disse Chagas.
Motorista há quatro anos, naquele dia, ele deixou a serra com cerca de 30 passageiros às 5h30. Na Rodoviária Novo Rio, vistoriou o veículo e encontrou a valise, além de um celular, sobre o compartimento da poltrona 13. Separou o bilhete referente ao assento, com o nome do passageiro.
À tarde, ao voltar para Nova Friburgo, seguia para entregar a mala no setor de achados e perdidos, quando viu um senhor visivelmente desolado. “Perdi documentos muito caros”, contou J. M. a Chagas. O motorista pediu a identidade e o canhoto da passagem, constatou que valise e celular eram dele e devolveu. “Ele chorou, me abraçou e ficou muito emocionado. Me ofereceu R$ 2 mil, mas não aceitei. Então, tirou um relógio do pulso (de R$ 500) e pediu que eu guardasse de lembrança”, contou.
O comerciante J. M. enfrentava dificuldades financeiras por também ter sido vítima das chuvas, e o dinheiro era da venda de um carro de luxo, para pagar dívidas com distribuidores. “A atitude que esse rapaz teve deve ser recompensada pela empresa. É difícil encontrar gente assim”, disse.