Enquanto criava aventuras vampirescas ao lado de Antônio Calmon para Vamp, em 1991, na Globo, o novelista Tiago Santiago alimentava a ideia de retratar as atrocidades da ditadura militar do Brasil (1964 – 1985). Em 1995, depois de colaborar com duas novelas globais – Vamp e Olho no Olho -, ele apresentou para a cúpula da emissora uma sinopse sobre um projeto com esse tema. Santiago estava esperançoso. O diretor Herval Rossano queria promovê-lo a função de titular de novelas. Não deu certo. Mas o autor não desistiu de levar um dos mais importantes episódios da História recente do Brasil à TV. E hoje, 16 anos depois, estreia, no SBT, a novela Amor e Revolução, de autoria de Santiago, que é bacharel em ciências sociais e mestre em sociologia.
No SBT desde 2009, Tiago Santiago, 47 anos, deixou claro a Silvio Santos que seu interesse era escrever as próprias tramas, e não adaptar roteiros mexicanos. A estreia atendeu às expectativas do patrão. O primeiro folhetim na casa, Uma Rosa com Amor, marcou média de 5 pontos no Ibope. Entusiasta da história do País, Santiago partiu para realizar seu antigo sonho de falar da ditadura brasileira numa novela. Mandou um e-mail para Silvio Santos, falando do projeto. Dez dias depois, veio a resposta: “Sim”. Com a aprovação, Santiago se aprofundou no assunto. Leu mais de 30 livros, colheu 70 depoimentos – entre eles do ex-ministro da Casa Civil, José Dirceu, de Luiz Carlos Prestes Filho e de Fernando Gabeira – e, com um elenco de 35 artistas, participou de um workshop com vítimas de torturas da época.
Santiago quer colocar no ar algo “revolucionário.” Afinal, essa é a primeira novela na história da TV a ter os anos de chumbo como norte de uma trama – na Globo, o tema foi retratado na minissérie Anos Rebeldes (1992), de Gilberto Braga. O orçamento disponibilizado à obra, R$ 30 milhões, faz jus ao empenho de Santiago (na Globo, uma trama de 180 capítulos custa cerca de R$ 80 milhões). A pretensão do novelista é atingir a casa dos dois dígitos de audiência no Ibope (mínimo de dez pontos) e, se possível, não se restringir aos 180 capítulos programados. A princípio, ele irá retratar os anos de 1964 a 1970. “Mas podemos chegar à redemocratização do País”, diz o autor.
Cenas de tortura. Diferentemente das novelas anteriores do SBT – a emissora costuma estrear uma trama com, pelo menos, 100 capítulos finalizados -, Amor e Revolução será lançada com apenas 24 capítulos gravados. Desta vez, assim que Amor e Revolução completar um mês no ar, a equipe do autor fará um estudo de recepção. O autor se preocupa com as cenas de tortura. “Se o público achar chocante, vamos diminuir a violência”, adianta. A novela terá sequências de explosões, espancamentos, choques elétricos e afogamentos. Mas as mudanças de última hora, se ocorrerem, não serão um problema para o diretor Reynaldo Boury, 79 anos e 47 anos de carreira. “Temos muito material”, diz ele. Santiago completa: “O Boury tem muita competência”. Reynaldo Boury assinou mais de 35 novelas, entre elas Redenção, a mais longa da história da TV, com 596 capítulos.
Além de administrar cenas de explosões, Boury já teve de lidar com um surto de choro da atriz Patrícia de Sabrit. Na ocasião, ela fazia uma cena em que sua personagem era estuprada pelo marido. “Fiquei 10 minutos em choque, chorando no camarim”, lembra Sabrit. Apesar da dose dramática, Santiago garante que a trama também cenas românticas, principalmente do casal formado pela guerrilheira Maria Paixão (Graziela Schmitt) e pelo militar José Guerra (Claudio Lins). Nascido em 1963, um ano antes do Golpe de 1964, o autor participou, em 1977 de reuniões da Convergência Socialista (organização baseada na filosofia do revolucionário Leon Trotski). Mas se diz politicamente neutro. “Tenho convicção na democracia, mas sou apartidário”, diz o novelista, que sonha para o desfecho da trama ter um discurso da presidente Dilma Rousseff. Ao final de cada capítulo, alguém envolvido com a ditadura, dará um depoimento de 3 minutos. Com ou sem o depoimento de Dilma no último capítulo, tudo indica que Tiago Santiago irá comover o telespectador ao retratar um dos períodos mais conturbado da História do Brasil.