A desigualdade social no Brasil atingiu em 2010 o menor patamar em pelo menos 50 anos, resultado de investimentos em educação e em programas sociais, mostrou um estudo da Fundação Getúlio Vargas (FGV) divulgado nesta terça-feira.

O índice de Gini, padrão internacional para medir a desigualdade social, alcançou no ano passado 0,5304, de acordo com dados da FGV. Trata-se do melhor patamar desde a década de 1960.

“Esse é um dado até conservador, porque a pesquisa abrange apenas as regiões metropolitanas do país e houve os últimos avanços significativos no interior e na área rural”, disse o autor da pesquisa, o economista Marcelo Neri.

“Nosso Gini ainda é estupidamente alto em relação a outros países, mas estamos avançando”, disse Neri. Nesta terça, o governo anunciou que cerca de 16,2 milhões vivem na extrema pobreza no país e serão incluídos em um programa de combate à miséria que será lançado dentro de algumas semanas.

O índice de Gini atingiu seu ápice no início da década de 1990, quando chegou a 0,6091, e passou a cair de sustentadamente após o início da estabilidade econômica promovida pelo Plano Real.

Segundo o economista, a desigualdade cresceu desde a década de 1960, quando o índice foi de 0,5367, até a década de 1990. Pela metodologia, quanto mais perto de 1, maior é a desigualdade em um país. A FGV começou a medir a desigualdade no Brasil a partir da década de 1960.

“A desigualdade de renda cresceu com o aumento da desigualdade de educação e com a elevação da demanda por educação”, disse o economista.

“Os programas sociais também tiveram um papel importante, mas menos relevante que a educação”, acrescentou.

A taxa acumulada de crescimento da renda na década passada foi de 10,03 por cento entre os 10 por cento mais ricos e de 67,93 por cento para os 50 por cento mais pobres.

Já entre os 20 por cento mais pobres, os anos de estudos cresceram 55,59 por cento, com um avanço da renda de 49,52 por cento. Entre os 20 por cento mais ricos, a escolaridade cresceu 8,12 por cento, com aumento de 8,88 por cento na renda.

Os analfabetos tiveram um incremento na renda na década passada de 47 por cento, segundo a FGV, e as regiões onde o rendimento mais cresceu foram em Estados do Nordeste e Norte, áreas mais pobres do país.

REDUÇÃO DA POBREZA

O estudo da FGV mostra ainda que a pobreza no Brasil caiu de forma mais intensa no governo de Luiz Inácio Lula da Silva do que no de Fernando Henrique Cardoso. Desde o começo do Plano Real, a pobreza caiu 31,9 por cento durante a era FHC (1995-2002), ao passo que nos dois mandatos de Lula (2003-2010) houve queda de 50,64 por cento.

“O Brasil mais do que cumpriu a Meta do Milênio com esses resultados”, afirmou Neri, que usou os dados preliminares do Censo 2010 do IBGE para fazer os cálculos.

Entre dezembro de 2009 e dezembro de 2010, o avanço na redução da pobreza no país foi de 16,3 por cento, duas vezes o registrado no período entre 2002 e 2008, quando a queda foi de 8,2 por cento.

Desde o início do Plano Real, em 1994, a pobreza caiu no Brasil 67,3 por cento, de acordo com a FGV.

Um dos compromissos da presidente Dilma Rousseff é acabar com a pobreza no país ao longo de 5 anos. “Acho ousada a meta de erradicação da pobreza em cinco anos, mas já cumpriu uma parte importante do caminho de reduzir em 50 por cento a pobreza entre 1990 e 2015”, acrescentou ele, lembrando o pacto com a Organização das Nações Unidas (ONU), que fixou as Metas do Milênio, oito objetivos a serem alcançados até 2015, como acabar com a fome e a miséria, reduzir a mortalidade infantil, combater a Aids, malária e outras doenças.