O presidente da Síria, Bashar al-Asssad, retirou o governador da cidade de Hama do cargo depois de grandes protestos contra seu governo ocorridos na sexta-feira na cidade, segundo informações da televisão estatal síria.

Ahmad Khaled Abdel Aziz foi removido por um decreto assinado por Assad depois de uma manifestação que teria reunido cerca de meio milhão de manifestantes nas ruas de Hama, encontrando pouca resistência das forças de segurança.

“O presidente sírio assinou um decreto hoje (sábado) liberando o dr. Ahmad Khaled Abdel Aziz de suas funções como governador de Hama”, informou a televisão estatal síria.

Um morador de Hama disse à BBC na sexta-feira que a cidade tinha se transformado em uma área liberada. Hama é um dos principais centros do levante sírio, que já entrou em seu quarto mês.

“Centenas de milhares de pessoas estão gritando: ‘vá embora, vá embora, o povo quer a queda do regime’. Hama inteira está celebrando. Há pessoas gritando de suas janelas e da frente de suas casas. Hama inteira está nas ruas”, afirmou.

O chefe do Observatório Sírio para Direitos Humanos, Rami Abdel Rahman, afirmou que esta foi a “maior manifestação desde o início da revolução síria”, no dia 15 de março.

Na sexta-feira também ocorreram manifestações contra Assad em outras cidades do país e grupos de defesa dos direitos humanos afirmaram que pelo menos 24 pessoas foram mortas pelas forças de segurança.

Ativistas afirmam ainda que mais de 1.350 civis e 350 integrantes das forças de segurança foram mortos desde o início dos protestos.

Rebelião

Hama já foi palco de outra rebelião, a da Irmandade Muçulmana, em 1982. Naquela época, a irmandade se rebelou contra o pai de Bashar al-Assad, Hafez, mas o Exército do país esmagou o movimento e pelo menos 10 mil pessoas teriam morrido.

Segundo correspondentes há informações de que o Exército diminuiu a presença na cidade no início da semana.

Mas, fatos e números a respeito da rebelião na Síria não podem ser confirmados de forma independente, já que as autoridades do país proibiram a presença de jornalistas estrangeiros.

No entanto, além de Hama, há informações de outras manifestações contra o governo na capital, Damasco, na segunda maior cidade síria, Aleppo, em Latakia e também em Homs. Alguns ativistas afirmam que o número de manifestantes em todo país chegou a três milhões.

Conferência

Os protestos de sexta-feira ocorreram apesar de uma conferência de dissidentes em Damasco, na semana passada, a primeira vez em quase quatro décadas que os dissidentes se reúnem em público sem o temor de prisões.

No entanto, segundo o correspondente da BBC em Beirute, no Líbano, Owen Bennett-Jones, não importa o que o governo sírio faça, os protestos continuam pelo país. Eles começaram em março na cidade de Deraa e se espalharam por várias cidades.

O presidente Bashar al-Assad já retirou do cargo o governador da cidade de Deraa, em março.

Assad, cuja família dirige a Síria há quatro décadas, prometeu introduzir reformas, mas seus oponentes exigem que ele deixe o poder.

Falando na sexta-feira, a secretária de Estado americana, Hillary Clinton, alertou que o tempo para o governo sírio implementar as reformas necessárias no país está se esgotando. BBC Brasil – Todos os direitos reservados. É proibido todo tipo de reprodução sem autorização por escrito da BBC.