O ministro da Fazenda, Guido Mantega, disse hoje (2) que o mercado brasileiro deve ser usufruído pela indústria brasileira e não pelos aventureiros que vêm de fora. A declaração foi feita na divulgação do Plano Brasil Maior, que inclui a nova política industrial, tecnológica, de serviços e de comércio exterior do governo federal e prevê medidas para combater a competição desleal dos produtos importados, sem qualidade e com preços superficialmente baixos, com os produtos nacionais.

Mantega defendeu que o Brasil continue a respeitar as regras de livre comércio da Organização Mundial do Comércio (OMC), mas que é importante tomar medidas que deem mais condições para a indústria nacional “competir em pé de igualdade” com as importações. “É um conjunto de medidas para fortalecer a indústria brasileira e dar a ela condições de competir em um ambiente adverso em que estamos vivendo hoje”.

Ele voltou a lembrar da crise financeira mundial decorrente de problemas que se arrastam desde 2008 e que, em sua avaliação, não devem ser resolvidos no curto prazo. “Pelo contrário, temos visto, nas últimas semanas, os Estados Unidos a beira de default [calote da dívida], algo histórico, que nunca tínhamos visto na história”, observou.

Outro problema, de acordo com Mantega, é a crise que atinge os países da zona do euro, vários deles com dívidas públicas elevadas. Ele disse que o cenário atual prejudica o setor manufatureiro, principalmente nos principais países considerados avançados. E mesmo nos países emergentes, que conseguiram sair da crise, há problemas nas exportações e no cumprimento de metas que permitam o crescimento da economia.

“Vemos hoje a indústria manufatureira mundial se defrontando com uma grande capacidade ociosa e buscando mercado a qualquer custo. E diria que nós estamos em um cenário de concorrência predatória no mundo.”

O ministro criticou ainda a chamada guerra cambial, que tem feito com que os países ditos avançados prejudiquem, inclusive, a indústria brasileira. “Os países avançados têm praticado política cambial que manipula o dólar, para aumentar a competitividade na chamada guerra cambial. Os Estados Unidos, com sua política monetária expansionista, estão baixando o valor do dólar”, avaliou.

A prática, na avaliação de Mantega, só resolve a crise para fora dos Estados Unidos, aumentando as exportações, mas não soluciona a crise doméstica norte-americana. “Nós temos combatido, com medidas, para evitar que o real se valorize mais que o dólar. E se não tivéssemos tomado essa medida, em um momento em que o dólar estava derretendo, acredito que iria ficar abaixo de R$ 1,50 no Brasil”.

Mantega admitiu que a situação atual é uma “luta difícil, diante de uma crise prolongada e que, por isso, não bastam apenas medidas cambiais, mas, sim, medidas que realmente fortaleçam a indústria nacional.