Rio de Janeiro – A Rádio Nacional do Rio de Janeiro, emissora que nas décadas de 40 e 50 foi o maior veículo de comunicação de massa do Brasil, completa 75 anos nesta segunda-feira (12). Inaugurada como empresa privada, em 12 de setembro de 1936, e estatizada em 1940; a Nacional criou a partir daí o padrão brasileiro de um rádio popular com alta qualidade técnica e artística, conquistando ouvintes de todo o país.
Ao apresentar uma variada grade de programação, a Nacional foi considerada uma emissora pioneira e inovadora para a época. Programas de auditório, de humor, radioteatro, de esporte e de radiojornalismo – no qual o Repórter Esso, lançado em 1941, foi a matriz dos informativos das rádios brasileiras – eram os destaques desse mix.
Na era da música ao vivo no rádio, a Rádio Nacional chegou a contar com três orquestras, maestros e arranjadores de renome, como Radamés Gnattalli, e um elenco de músicos e cantores que incluía nomes como Emilinha Borba, Marlene e Cauby Peixoto.
No comando dos programas, nas novelas e nos humorísticos, a Nacional consagrou nomes como César de Alencar, Paulo Gracindo, Almirante, Brandão Filho, Mario Lago e Daisy Lúcidi, ainda hoje integrante dos quadros da emissora.
“O sucesso que a Rádio Nacional alcançou nos anos 40 e 50 foi sobretudo o resultado de uma boa gestão, não só de conteúdo, mas também técnico”, avalia a professora Sonia Virginia Moreira, da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj), coautora, com o radialista Luiz Carlos Saroldi [que morreu em 2010] do livroRádio Nacional: o Brasil em Sintonia.
Segundo ela, o fato de a emissora ter sido ao mesmo tempo pública e comercial assegurou os recursos para que a Nacional se tornasse uma potência, mas isso não foi tudo. “O mais importante não era simplesmente essa dupla forma de subsistência, mas como esses investimentos eram traduzidos no âmbito da Nacional, uma rádio que lançava novas ideias, pessoas e dava oportunidade a conhecedores da música popular e do teatro divulgarem seus trabalhos”, destacou.
Para Sonia Virginia Moreira, esse pioneirismo foi resultado do trabalho de gestão das pessoas que estavam à frente da rádio na época, como o diretor Gilberto de Andrade. “A implantação, em 1942, das antenas de ondas curtas permitiu que a Nacional falasse para o país inteiro e também para o mundo. Se nós pensarmos nas dificuldades de transporte e de comunicação no Brasil nos anos 40, contar com uma emissora de rádio com esse alcance era uma coisa ímpar.”
Juntamente com a Nacional, a Rádio MEC do Rio de Janeiro, que também integra a Superintendência de Rádio da Empresa Brasil de Comunicação (EBC), completa este mês 75 anos de história. Em 7 de setembro de 1936, a Rádio Sociedade do Rio de Janeiro, primeira emissora radiofônica do país, fundada em 1923, foi doada por seu criador, o cientista e educador Edgar Roquette Pinto, ao então Ministério da Educação e Saúde.
Ao longo dessas sete décadas e meia, a Rádio MEC tem se mantido fiel aos compromissos de seu fundador com a disseminação da cultura e da educação. O quadro profissional da emissora já abrigou maestros e compositores como Heitor Villa-Lobos e Guerra Peixe, atores como Paulo Autran e Fernanda Montenegro, e escritores como Fernando Sabino, Cecilia Meirelles e Paulo Mendes Campos. Na MEC, surgiu a Orquestra Sinfônica Nacional, que nos anos 80 foi transferida para a Universidade Federal Fluminense (UFF).
“É uma comemoração fantástica esses 75 anos de duas rádios que fazem definitivamente parte da história do Brasil. E o importante é que, com todos os avanços e mudanças tecnológicas e de linguagem do rádio, essas duas emissoras continuam falando para o povo brasileiro”, destaca a professora da Uerj.
Sonia Virginia Moreira lembra que o ano de 2011 também marca os 70 anos de criação do Repórter Esso. Ela organizou o recém-lançado 70 Anos de Radiojornalismo no Brasil, resultado do trabalho conjunto de alguns especialistas do grupo de pesquisa de Rádio e Mídia Sonora da Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares de Comunicação (Intercom).
O duplo aniversário de 75 anos será comemorado nesta segunda-feira (12) com um show, das 13h às 16h, no Campo de Santana, histórico parque público do centro do Rio de Janeiro. Em um palco montado na praça central do parque, haverá apresentações de samba, choro, forró, moda de viola, música infantil, MPB, pop rocke funk, refletindo a diversidade de artistas e gêneros musicais das duas emissoras.
No elenco estão, entre outros, a cantora Dorina, o cantor e compositor Cláudio Jorge, o Conjunto Época de Ouro, MC Leonardo, Jaime Alem, Jujuba e Ana Nogueira, Sergival, e a Banda Filarmônica do Rio de Janeiro. A programação se complementa com a esquete teatral do Núcleo de Radiodramaturgia da EBC e a apresentação poética de Geraldo do Norte, Pedro Paulo Gil e Marília Martins.
Outra atração da festa de aniversário é uma exposição sobre a história das duas emissoras e a evolução do rádio no mundo, com painéis da artista gráfica Ruth Freihoff.